Com impunidade, machismo reina

Mulheres são tratadas como objeto de prazer


Os atos de violência contra mulheres cometidos por atletas refletem não só o machismo da sociedade como um todo, mas também os inúmeros desafios do meio esportivo para acabar com a impunidade e com esse tipo de comportamento recorrente.
De acordo com os últimos casos de atletas envolvidos em denúncias de violência sexual, apenas dois foram parcialmente punidos e tiveram suas vidas profissionais afetadas. Em 1991, o então boxeador Mike Tyson conheceu uma modelo e, num quarto de hotel, ele a estuprou. Condenado a seis anos de prisão, Tyson cumpriu metade da pena por causa do bom comportamento. Assim como o atacante inglês Ched Evans, condenado em 2012 por abusar sexualmente de uma mulher de 19 anos. Ele também ficou detido 21 meses até sair por bom comportamento. Em todos os outros casos envolvendo jogadores de futebol, os atletas conseguiram retomar a vida profissional.
Autor de estudos sobre masculinidade e futebol e integrante do Grupo de Estudos em Educação e Relações de Gênero (Geerge) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Gustavo Andrada Bandeira concorda que o machismo no esporte é, sim, um componente que estimula a violência. “No contexto do futebol masculino, a gente ainda tem a força da construção dessas celebridades, desses superjogadores famosos e idolatrados, que, eventualmente, poderão permitir que esses sujeitos se sintam ainda mais autorizados a fazer uso dos corpos das mulheres para satisfazer seus desejos e anseios”, diz.
Segundo Bandeira, além da cultura do estupro, que, em geral, já desacredita a mulher nesses tipos de violência, “uma vez que os jogadores são famosos, ricos e há um entendimento de que as mulheres teriam um desejo por eles, no senso comum esses homens terão acesso a qualquer mulher, o que é uma inverdade absoluta”. Para o especialista, essa mentalidade costuma fazer com que as pessoas pensem que os casos de violência seriam, na verdade, inventados pela vítima.
O desafio para superar esse comportamento começa na formação do atleta, diz o psicólogo Yghor Gomes, membro do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) e conselheiro do grupo de trabalho em psicologia do esporte do Conselho Federal de Psicologia (CFP).
“Não dá para dirigir a formação apenas para a escola ou para o clube. Os garotos precisam respeitar as árbitras, por exemplo, e a família tem que ajudar. Devemos ensinar o quanto o desrespeito às mulheres pode prejudicar a carreira deles”, diz.
Para ele, exemplos de impunidade de outros jogadores acusados de estupro revelam o quanto o corpo das mulheres ainda é visto como “um corpo que pertence ao público”.
 Diferenças
“A norma do esporte é masculina. Por isso, os homens não jogam futebol masculino, os homens jogam futebol. Quem joga futebol de gênero (futebol feminino) são as mulheres, um jogo de menor valor.”
Gustavo Andrada / Professor universitário
 Reflexos
“O machismo no esporte é o reflexo da sociedade no ambiente da prática esportiva. Então vão ser reproduzidos nesse espaço comportamentos que reproduzimos nos outros espaços sociais.”
Yghor Gomes - Psicólogo

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