Especialistas alertam para carga excessiva na mochila

Até 70% das dores da coluna na fase adulta foram geradas na adolescência


Aprovado. Aluna Rayssa Xavier, 16, usa os escaninhos e diz que, quando precisa estudar para provas, prefere ficar até mais tarde na escola a levar o material pesado para casa
Até 70% das dores da coluna na fase adulta foram geradas na adolescência
Luiza Andrade Em um estudo recente, publicado no periódico "Archives of Disease in Child-hood", pesquisadores na Espanha analisaram as mochilas e a saúde de 1.403 estudantes entre 12 e 17 anos. Mais de 60% deles estavam usando mochilas que pesavam mais de 10% do peso corporal, e quase um em cada cinco tinha bolsa que pesava mais de 15% do próprio peso. Os excessos que os estudantes carregam também estão em discussão no Brasil. Depois de sete anos de tramitação na Câmara dos Deputados, foi aprovado o projeto de lei que determina limites de peso para o conteúdo nas mochilas. Apesar de ainda tramitar pelo Senado, a medida pode trazer benefícios reais à saúde no presente e no futuro. De acordo com o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia da regional Minas Gerais, Francisco Carlos Falles Nogueira, o projeto é benéfico aos estudantes e ao sistema de saúde do país, que recebe muitos casos de problemas relacionados à má postura. Segundo a Sociedade Brasileira de Ortopedia, de 60% a 70% dos problemas de coluna na fase adulta são causados por excesso de peso e esforço repetitivo durante a adolescência. Além disso, é mais comum ver jovens com dores nas costas nos consultórios ortopédicos durante o período escolar. Para Nogueira, o maior problema gerado pelo excesso carregado são as dores crônicas que surgem com o esforço repetitivo, e não as musculares. "A dor nas costas vem acompanhada de espasmos e contrações musculares, o que leva ao desvio do eixo das costas. Isso significa que pode haver um aumento nos desvios da coluna (escoliose e lordose)", diz. Para o especialista em ortopedia pediátrica, o excesso, inicialmente, não traz problemas, mas, "ao manter esse quadro, a pessoa pode acabar sofrendo alterações definitivas nas costas". Ele explica que a má postura desenvolvida para equilibrar a carga excessiva nas costas se acentua com o passar dos anos. Os alunos podem até não ter dores enquanto levam o material, mas o incômodo pode surgir no mesmo dia, quando a pessoa estiver sentada ou deitada. "É aí que se sente o peso da postura inadequada", afirma. Projeto. A proposta aprovada pela Câmara indica a carga máxima na mochila de 15% do peso do aluno. Antes, o texto estipulava o limite de 10% do peso, recomendado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia. Mas, tendo em vista o cálculo matemático, uma emenda proposta pelo relator da Comissão de Educação e Cultura da Câmara sugeriu o aumento do limite. Para um aluno de 50 kg, por exemplo, o máximo de carga permitida nas costas seriam 7,5 kg, equivalente a um saco de arroz e dois de feijão.
Medida deve gerar alteração no atual sistema de educação
Se aprovado pelo Senado, o projeto pode gerar mudanças no sistema de educação, segundo Geraldo Junio dos Santos, coordenador do ensino médio no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte. "É praticamente inviável pesar a mochila de todos. As escolas vão ter que adaptar suas atividades ao que for proposto na lei", diz.
No colégio, foram instalados armários de uso pessoal para os ensinos fundamental e médio. Os adolescentes são os que mais aderiram ao serviço, que é pago, mas é um valor baixo, que vale a pena pela saúde, diz o coordenador.
Para Rayssa Xavier, 16, o escaninho é uma "mão na roda". "Deixo a maioria do material na escola", diz. Sua mãe, a dona de casa Rosilene Xavier, 40, aprova a ideia, mas reclama que a bolsa, às vezes, retorna pesada. "Antes do escaninho, havia dias em que eu não conseguia levantar a mochila do chão", fala.

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