Descobertas revelam a influência da personalidade, do relógio biológico e da quantidade de alimentos ingerida para garantir uma vida mais longa e saudável
A IMPORTÂNCIA DO RELÓGIO BIOLÓGICO
Um dos grandes desafios da medicina é descobrir como manter regulado o nosso relógio biológico, também chamado de ritmo circadiano, com o passar dos anos. Ele consiste em um ciclo de 24 horas durante o qual a temperatura do corpo, a atividade cerebral e a produção de hormônios variam com a mesma regularidade. Ao longo do envelhecimento, esse relógio vai perdendo a capacidade de se ajustar ao ambiente. A mudança pode ser notada por alterações no tempo de vigília e sono, por exemplo. A pessoa começa a dormir menos horas ou desperta mais vezes durante a noite, sem entrar com facilidade no sono que é de fato restaurador, o REM.
O problema é que prescindir desta fase do sono é tirar do corpo uma magnífica oportunidade de se restaurar. É nessa etapa, por exemplo, que o corpo produz o hormônio do crescimento, indispensável para a regeneração das células. Também é neste período que há a consolidação da memória – ou seja, quando o cérebro guarda as informações que considera relevantes. “Paga-se um preço alto pela desorganização do relógio biológico”, diz a neurologista Dalva Poyares, especialista em medicina do sono da Unifesp.
Alto mesmo. Uma ampla revisão de 16 estudos feita por cientistas do Reino Unido e da Itália, publicada na revista “Sleep”, revelou o tamanho desta conta: quem dorme habitualmente menos de seis horas por noite tem 12% mais probabilidade de morrer nos próximos 25 anos do que os que dormem entre seis e oito horas.
GINÁSTICA MENTAL
Julia Grimaldi e o marido, Aderbal, ambos com 68 anos, há duas décadas decidiram mudar
a rotina de vida para envelhecer bem. Controlam o peso, fazem exercícios, saem com
os amigos. “A cabeça também não pode parar. Meu marido estimula os neurônios
trabalhando e falando idiomas. Eu leio muito, assisto a filmes e agora vou praticar
outro idioma para me estimular”, diz Julia
Portanto, outra lição que começa a ser entendida pelos estudiosos do envelhecimento é que, quanto mais regulado o relógio biológico, menos desgaste sofre o corpo e maior a longevidade. Essa é a razão que está levando centros de pesquisa a procurar formas de preservar ou de restaurar o ritmo circadiano.
Um dos meios pelos quais é possível manter acertados os ponteiros do relógio biológico é regular o horário das refeições. Dessa maneira, o corpo sabe que, em algumas horas, irá receber comida e começa a se preparar, aumentando o suco gástrico do estômago, por exemplo. É um modo de organizar seu funcionamento. “Aos cegos, por exemplo, que não têm o marcador temporal da luminosidade, recomenda-se que façam as refeições sempre no mesmo horário”, explica o cientista John Fontenele Araújo, da Universidade Federal de Natal, especialista em cronobiologia. O neurologista Marco Túlio, da Unifesp, orienta ainda a ingestão de pequena quantidade de alimentos a cada três horas, para manter o gasto energético constante. “Isso também funciona.”
Outro conceito a ganhar força é o respeito ao cronotipo de cada um. Fala-se aqui da categoria dos matutinos e dos vespertinos. Os primeiros sentem-se mais despertos pela manhã e os outros estão mais ativos horas mais tarde. “Quanto mais a pessoa respeitar seu ritmo, melhor produzirá e menos desgaste vai sentir”, diz a enfermeira Maria Filomena Ceolim, professora da Universidade Estadual de Campinas, estudiosa da medicina do sono.
QUANTO COMER?
A relação entre a quantidade de alimentos ingerida e a velocidade do envelhecimento está cada vez mais clara para a ciência. Trabalhos com cobaias mantidas sob um regime de restrição calórica mostram que a medida tem benefícios importantíssimos. Um dos estudos, realizado na Universidade de Washington, apontou que o corte de 10% a 50% das calorias fez com que os animais envelhecessem com menores índices de tumores, doenças cardiovasculares e problemas de aprendizagem e memória. De modo geral, as pesquisas indicam que a estratégia dobra e até triplica o tempo de vida. Baseados nessas informações, médicos e nutricionistas começam a ressaltar a importância de comer menos para viver mais. Mas quanto menos? “A redução deve ser de 20% a 40% no total de calorias ingeridas por dia”, explica a nutricionista funcional Lucyanna Kalluf, de São Paulo.
Comer menos do que o habitual emagrece, é claro. Com isso, diminui-se o risco de doenças associadas à obesidade, como a hipertensão e a diabetes tipo 2. Consequentemente, reduz-se o risco de morte. Mas o que as pesquisas demonstram é que a restrição calórica atua em uma esfera ainda mais profunda: ela provoca um impacto no material genético. O que se descobriu é que, quando há menor disponibilidade de alimentos, o organismo ativa um gene, o Sirt1. Ele determina que as células funcionem de modo econômico, gastando menos energia, para que consigam sobreviver mais tempo. “Esse metabolismo mais lento submete o organismo a um desgaste menor, o que reduz a produção de substâncias que agridem as células”, disse à ISTOÉ o cientista Shin-Ichiro.
HUMOR QUE SALVA
O assessor político Paulo Cavalcanti, 54 anos, é visto pelos amigos como uma pessoa
de temperamento exemplar, daquelas que conseguem manter a calma e fazer piadas
que tiram a tensão do ambiente nas situações mais difíceis. O filho dele, Vinícius, 24 anos,
vai pelo mesmo caminho. “Cultivo o bom humor. Sei que é um jeito de impedir que o
desgaste do stress prejudique meu organismo”, afirma.
Segundo a equipe do Instituto Max Planck de Biologia do Envelhecimento, na Alemanha, há um aminoácido em especial, a metionina (que o corpo não produz), que é crucial para aumentar a longevidade. “Ela é muito importante para a regeneração celular e livrar o fígado de toxinas”, afirma Lucyanna. Boas fontes de metionina são as sementes de gergelim, castanha-do-pará, germe de trigo, peixes e carnes. Há ainda muitas substâncias que ajudam a preservar as células do envelhecimento, os chamados fitoquímicos, que precisam estar presentes à mesa (leia quadro).
Fonte: https://istoe.com.br/111753_OS+NOVOS+CAMINHOS+PARA+A+LONGEVIDADE+PARTE+2/
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