Sebastião Salgado e Lélia Wanick falam nesta segunda em BH sobre projeto de recuperação das nascentes do Vale do Rio Doce
JÚLIO ASSIS
Preocupação. Sebastião Salgado vem buscar apoio para reavivar fontes |
O périplo para angariar apoio ao Programa Olhos D’água não impediu, claro, que os dois acompanhassem com orgulho a participação do filho cineasta, Juliano Salgado, que há duas semanas concorreu ao Oscar de melhor documentário com o filme “O Sal da Terra”, sobre a trajetória de Sebastião, realizado em parceria com o premiado diretor alemão Wim Wenders. O ganhador foi o norte-americano “CitizenFour”, o que não diminuiu o entusiasmo dos pais. “O filme do Juliano e do Wim é a minha identidade, gostei muito e fiquei felicíssimo pela participação do Oscar. Não precisava ganhar, é um prêmio norte-americano e é natural que os vencedores sejam de lá”, diz Sebastião. “‘O Sal da Terra’ conquistou o César, o maior prêmio de cinema da França”, exalta Lélia.
Sobre a condição de protagonista de um filme, o fotógrafo confessa que teve dificuldades. “Não é fácil você trabalhar com câmera te filmando por muito tempo, mas para filho a gente faz tudo”, brinca. “O Wim é um grande amigo, já visitou Aimorés (terra natal de Sebastião) várias vezes, e um diretor fantástico”, completa.
Biografia. Parte da gravação do filme ocorreu quando Sebastião realizava o projeto “Gênesis”, em que ele fotografou lugares intocados do planeta. Às vésperas de apresentar o resultado desse trabalho – que já foi mostrado em Belo Horizonte ano passado, em exposição no Palácio das Artes –, ele concedeu uma série de depoimentos para a jornalista francesa Isabelle Francq, que desembocou no livro “Da Minha Terra à Terra” (editora Paralela), em que ela elabora um fio condutor à fala de Salgado.
O filme e o livro concomitantes deram ao fotógrafo uma superexposição que não o incomoda. “O meu trabalho é a fotografia, ele tem que ser visto e tudo isso faz parte”, avalia. Desenvolvendo ao longo de décadas uma obra que chama a atenção para o que a humanidade vem fazendo de seus destinos, ele realiza ao mesmo tempo, com Zélia, ações que buscam reverter a degradação do planeta. Para isso os dois criaram o Instituto Terra, em Aimorés, que vem recuperando uma imensa área da Mata Atlântica, e agora se volta também para a questão da água.
“Esse problema virou agora um tema de ponta no Brasil, mas é preciso ver que a questão não está na falta de chuva. Matamos os rios ao longo do tempo e é a hora de reavivá-los. Possuímos todo um planejamento para recuperar os extratos de olhos d’água de 400 mil fontes do Vale do Rio Doce de 25 anos a 30 anos. Já começamos a fazer isso há cerca de cinco, seis anos, ou seja, temos para mostrar um piloto que assegura a viabilidade do que defendemos”, afirma.
A convicção do fotógrafo vem dos resultados obtidos com o replantio da mata (2 milhões de árvores em 20 anos) e com o aprendizado que ele disse trazer do contato com povos dos lugares não explorados que conheceu no projeto Gênesis. “Nós nos distanciamos do planeta e temos que reencontrá-lo. Precisamos dessa aproximação, nem que seja espiritualmente. Do contrário, ele vai nos expulsar”, professa.
Vem aí
Café. De acordo com o fotógrafo Sebastião Salgado, será lançado em maio um livro com imagens de sua lavra sobre a cultura cafeeira em diversas partes do mundo. No Brasil, a publicação sai pela editora Companhia das Letras.
Produção.Salgado contou também que iniciou esse projeto em 2002, antes da série “Gênesis”.
Fonte: http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/rebrotar-os-olhos-d-%C3%A1gua-1.1005701
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