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JOYCE COHEN
THE NEW YORK TIMES
Nova York, EUA. Como muita gente, George Rue adorava música. Ele tocava guitarra em uma banda e tinha o hábito de ver shows. Perto dos 30 anos de idade, começou a sentir uma dor indistinta nos ouvidos após eventos musicais. Depois de um show de blues nove anos atrás, “eu saí com uma dor horrível e zumbido nos ouvidos, e minha vida nunca mais foi a mesma”, afirmou Rue, 45, de Waterford, em Connecticut.
Com exceção das notas suaves, ele percebia todos os sons em um volume tão alto que ouvir doía. Agora, ele tem uma dor constante e ardente nos ouvidos, em conjunto com zumbido, tão barulhento quanto “um raio laser cortando uma chapa metálica”. Sons cotidianos, como o zumbido de um refrigerador, causam a sensação de “agulhas furando meus ouvidos”. Rue evita eventos sociais e foi entrevistado por e-mail porque falar ao telefone causa dor.
Rue recebeu o diagnóstico de hiperacusia – termo não específico que possui várias definições, tais como “sensibilidade sonora”, “tolerância reduzida ao som” e “problema de tolerância ao ruído”. Entretanto, a hiperacusia também pode se manifestar com dor auditiva, problema médico mal compreendido que só agora está começando a receber atenção mais séria.
Hiperacusia. “Trata-se de um campo emergente”, afirmou Richard Salvi, do Departamento de Ciências e Distúrbios da Comunicação da Universidade de Buffalo, além de consultor científico da Hyperacusis Research, grupo sem fins lucrativos que financia pesquisa sobre o problema. “Mais trabalho é necessário para compreender os sintomas, etiologia e mecanismos neurais subjacentes”.
Barulhos altos, mesmo quando não são dolorosos, podem danificar as células sensoriais e as fibras do nervo sensorial do ouvido interno ao longo do tempo, causando deficiência auditiva, explica M. Charles Liberman, professor de otologia da Faculdade de Medicina de Harvard, responsável por um laboratório de pesquisa auditiva na Enfermaria de Olhos e Ouvidos de Massachusetts. Para pessoas com essa tendência, possivelmente em função da combinação genética que lhe dá ouvidos “tenros”, o barulho desencadeia uma “reação anômala”.
O número de casos de hiperacusia, com ou sem dor, é desconhecida. Estudos sugerem que 8% das pessoas têm “intolerância incomum a ambientes sonoros comuns”, enquanto 2% têm “hiperacusia prejudicial”.
Hiperacusia com dor é uma “entidade fisiológica completamente diferente” da mera sensibilidade aumentada, disse Liberman. O nervo auditivo contém fibras revestidas com mielina, usadas para perceber o volume e processar a fala, além de fibras sem mielina. Segundo ele, embora ainda não tenha sido provada, a hiperatividade nas fibras sem mielina pode ser responsável pela sensação aumentada de dor nos indivíduos afetados.
A dor também poderia vir de receptores de dor no tímpano ou dos minúsculos ossos e juntas do ouvido médio, explicou Salvi.
Tratamento. Os pacientes podem ser tratados com analgésicos ou terapia sonora, que usa ruído de fundo reconfortante; o volume e a duração são aumentados lentamente para ajudar na dessensibilização.
“A melhora em curto prazo é enganosa”, disse Pollard, da Hyperacusis Research, que busca informar audiologistas e otorrinolaringologistas a respeito dos “fatos horríveis de como a lesão causada por ruído costuma se comportar e o que um paciente vivencia”.
“Recaídas importantes ocorrem com nova exposição ao som. Nós continuamos vendo isso em pessoas que recebem orientações ruins e voltam à vida normal confusas, se machucando ainda mais”, disse ele.
Fonte: http://www.otempo.com.br/interessa/pouco-conhecida-hiperacusia-faz-o-ato-de-escutar-ser-doloroso-1.965076
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