Elogio deve ter o foco sempre no esforço

Parabenizar apenas pela inteligência pode ser prejudicial ao desenvolvimento


Apoio. Ana Paula Tavares acompanha os filhos Antonio Fábio, 8, e Pedro Henrique, 4, nos deveres
Parabenizar apenas pela inteligência pode ser prejudicial ao desenvolvimento

Em muitas salas de aula do ensino infantil, os professores são muitas vezes instruídos a colocar palavras de elogio no dever de casa dos alunos. As tarefas são recolhidas em uma aula e, quando devolvidas corrigidas na aula seguinte, voltam enfeitadas com adesivos e expressões como "Parabéns!", "Muito bem" ou "Bom".

Essas expressões são comuns nos vocabulários dos pais e dos educadores. Contudo, segundo psicólogos e especialistas em educação, elas podem fazer mais mal do que bem se não forem empregadas corretamente.
Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos indica que o elogio à inteligência pode ser prejudicial ao desenvolvimento intelectual das crianças. Segundo a pesquisa, que reuniu seis estudos e 400 crianças da quinta série do ensino fundamental, existe uma grande diferença entre o elogio à inteligência e o elogio ao esforço.

Para as pesquisadoras Claudia Mueller e Carol Dweck, da Universidade Colúmbia, nos EUA, os resultados dos estudos indicam que o elogio à inteligência ensina à criança que não há a possibilidade de desenvolvimento. Por outro lado, o incentivo ao esforço ensina que os pequenos podem melhorar, independentemente da área conhecimento.

Pais. A psicóloga Paula de Paula, especialista em psicologia social e professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), acredita que o estudo apenas atesta uma realidade. "A referência que a criança tem vem de seus pais. Quando é elogiada apenas pela inteligência, ela não experimenta a sensação do mérito", fala.

Segundo Paula, o mérito é um dos principais combustíveis que movem as crianças em direção ao desenvolvimento de novas habilidades. "O desafio do esforço está ligado à superação de problemas", afirma a especialista.

Ao crescerem sem a experiência do mérito, segundo a psicóloga, as crianças passam a evitar tarefas "difíceis" ou fora da competência que elas acreditam ter.

"Quando uma criança ouve dos pais que é excelente em matemática, com a primeira nota ruim em português, ela desiste de tentar e pensa ‘sou bom em matemática, o português não é a minha praia’", exemplifica. Dessa forma, as crianças se limitam a determinados tipos de conteúdo para evitarem a sensação de fracasso.

Na casa da microempreendedora Ana Paula Tavares Lemos Dias, 30, essa possibilidade foi vetada. Seu filho mais velho, Antônio Fábio, 8, aprendeu desde cedo a importância do esforço nas tarefas da escola e de casa. "Antes mesmo de começar na escola, sempre enfatizamos que o esforço é a chave para o sucesso", conta a mãe. Segundo ela, o garoto é muito inteligente. "Ele raramente tira um 7 em 10".

Quando Antônio tira notas boas na escola, o elogio é "Muito bem! O esforço dos estudos vale a pena!". Quando a nota é ruim, a fala vira "Tudo bem, filho. Da próxima vez, você vai se esforçar mais e ter um bom resultado!". Ana Paula afirma que o elogio faz efeito. O próprio garoto sabe que tem que estudar mais quando não tira 10 na prova.

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