Pequenas Centrais Hidrelétricas seriam erguidas na bacia do rio Santo Antônio, que deságua no Doce
RODRIGO FREITAS
A construção de 18 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na bacia do rio Santo Antônio, entre a região Central de Minas e o Vale do Rio Doce, está embargada pela Justiça desde agosto de 2011. A justificativa é a falta de um estudo articulado sobre impactos ambientais entre esses empreendimentos e outros que já estão sendo construídos na mesma bacia, como os minerodutos – tubos instalados subterraneamente que usam água dos rios da bacia para levar o minério de ferro aos portos ou locais onde será beneficiado.
Juntas, as 18 PCHs embargadas gerariam, se construídas, 119 megawatts de energia – o suficiente para abastecer 896 mil pessoas, o equivalente à população somada das cidades de Contagem e Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Apesar do avanço na geração de energia, entidades ambientais das cidades próximas dos minerodutos e das PCHs – cuja construção é particular e que têm a energia, vendida ao governo – estão preocupadas. Uma tese de doutorado de um pesquisador da UFMG aponta que pelo menos quatro espécies de peixes podem desaparecer da bacia com a construção das usinas. “Já se sabe que, hoje, PCHs não são a maneira mais eficiente de geração de energia”, defende a presidente da Associação de Defesa e Desenvolvimento Ambiental de Ferros (Addaf), Tereza Cristina Silveira.
A preocupação parece fazer sentido porque o rio Santo Antônio é o único afluente do rio Doce que entrega suas águas em condições de consumo humano. O secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais, Adriano Magalhães, reconhece a importância da bacia. “É um afluente essencial para a bacia do rio Doce, que está degradada”, admite.
A construção de um mineroduto de cerca de 500 km de extensão pela Anglo e pela Ferrous – que será o maior do mundo, quando for concluído – entre Conceição do Mato Dentro, onde nasce o Santo Antônio, e o porto de Açu, no Rio de Janeiro, é motivo de mais apreensão. Haverá outro, que será construído pela Manabi para levar minério ao Espírito Santo. Quando estiverem em funcionamento, os empreendimentos retirarão o equivalente a 3% de água do rio na cheia e a 10% do volume em época de seca.
ANÁLISE. A construção das PCHs e dos minerodutos é vista com reservas pelo ambientalista Apolo Heringer. “Não podemos abrir mão assim facilmente dos nossos rios, ainda mais de um como o Santo Antônio”, diz.
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