Um economista brasileiro que tem bons contatos no alto comando das finanças mundiais passou um dia ligando para autoridades europeias e se assustou com a falta de noção deles sobre a dimensão da crise. Tudo está tão louco no mundo atual que há dúvidas sobre a sobrevivência do euro e mesmo assim a moeda se valorizou este ano 5,4% em relação ao dólar. Há explicação?
O mundo hoje é cheio de contradições. A Alemanha está se fortalecendo cada vez mais num continente que naufraga. Ela vai crescer este ano 3%, no ano passado cresceu 3,5%, segundo o FMI, que classifica o desempenho alemão de “impressionante”, o mesmo Fundo que lembra que a Itália há dez anos cresce menos que o continente. A Alemanha está criando emprego, aumentando o produto industrial, controlando contas públicas. O país conseguiu retomar o crescimento interno e manter exportações altas, mesmo num cenário de encolhimento de grandes economias. Outras economias do continente se afundam em recessão, déficit, dívida e desemprego.
O mundo atual desafia o entendimento de qualquer um. A Itália, que fez o mercado tremer na semana passada, tem uma classificação de risco que é, pela Fitch, cinco níveis acima do nível do Brasil. O Brasil tem metade da dívida/PIB da Itália e menos da metade do déficit. Nossa tendência é de queda da dívida, e a deles é de alta. Faz sentido essa classificação? Perguntei isso ao diretor da agência no Brasil, Rafael Guedes, na GloboNews. Ele disse que o custo da dívida é mais alto no Brasil. Sim, o Brasil tem juros altos; não, não há lógica nesta classificação de risco. Obviamente.
Uma pessoa me fez uma pergunta simples e procedente no Twitter: como o euro pode subir se a crise é europeia? Ele subiu tanto quanto o real. Valorização da moeda não é atestado de saúde, mas os economistas concordam que é contraditório. A queda do dólar em relação a várias moedas faz sentido; os EUA estão em crise, e o Banco Central jogou muito dólar na economia nas últimas duas rodadas de expansão monetária. Mas e o euro? O economista José Alfredo Lamy, da Cenário Investimentos, admite que é difícil de entender:
— A dinâmica do mercado tem uma lógica confusa. Se o risco é iminente, o euro sofre; se o problema é postergado, continua-se apostando na moeda. Uma das razões é que os juros europeus subiram duas vezes este ano. Os americanos, continuam zerados.
O economista José Julio Senna, da MCM Consultores, também aponta esse mesmo motivo:
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