Parcerias que funcionam

Unir-se a comunidade, empresas privadas e públicas, ONGs e universidades ajuda a escola na missão de ensinar. Saiba o que é preciso fazer antes, durante e depois das parceiras.

Para montar um quebra-cabeças, é preciso achar a posição exata para que peças de diferentes formatos se encaixem. O esforço exige raciocínio, paciência e uma visão do todo para chegar ao resultado pretendido. Uma escola que busca parceiros para garantir que todos os alunos aprendam também tem de descobrir os pontos de encaixe que levem ao aperfeiçoamento da sua rede de ensino e aprendizagem. "Antes de tudo, a primeira parceria é entre o gestor e suas equipes. Todos têm de estar em sintonia quanto aos propósitos e objetivos da escola", afirma Maria das Graças Fernandes Branco, supervisora de ensino e mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Essa organização interna e convergência de intenções materializa-se no projeto político-pedagógico (PPP). "Na elaboração coletiva desse documento, a equipe prevê as ações institucionais e pedagógicas e em que pontos as parcerias podem ajudar e como", explica Sálua Guimarães, orientadora pedagógica e mestre em Educação pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), na Argentina.

Com isso, a escola está preparada para montar seu quebra-cabeças com base nas peças disponíveis no entorno. Nesta reportagem, você vai conhecer os princípios das parcerias eficazes e como extrair o melhor delas. Vai, ainda, ler as experiências de cinco escolas que tiveram êxito ao aproximar-se da sua comunidade, de empresas públicas e privadas, das universidades e de organizações não governamentais (ONGs).

No início, a escola era refém do interesse das empresas

Ilustração: Anna Luiza Aragão

A década de 1990 marcou o início da intensificação das parcerias público-privadas. Com o aumento do acesso às salas de aulas e da cobrança por qualidade do ensino público, a sociedade civil começou a se mobilizar: surgiram ONGs ligadas à Educação e empresas passaram a direcionar investimentos para essa área como parte de seu trabalho social.

"No princípio, a iniciativa privada tinha apenas a intenção de dar dinheiro ou oferecer o que ela mesma julgava importante - como projetos de alcance limitado (em áreas como Educação Ambiental, protagonismo juvenil e gestão por resultados, entre outras). Muitas vezes, até colocando profissionais para substituir professores e gestores em suas funções. Por outro lado, as escolas, não raro carentes de recursos e de capacidade para diagnosticar suas reais necessidades, recebiam qualquer ajuda externa sem critério", lembra Maria Alice Setúbal, fundadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), em São Paulo. "Essa fórmula assistencialista, que existe até hoje, leva as escolas a ficar apenas como receptoras de recursos e, por isso, reféns dos parceiros, sem conhecimento nem autonomia para andar com as próprias pernas", completa Roberta Panico, coordenadora pedagógica da Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo.

A boa notícia é que, nos últimos anos, essa perspectiva vem mudando. Empresas e ONGs se mostram mais abertas a investir em projetos focados em melhorar o desempenho dos alunos. "Até 2005, nosso investimento em Educação - que fazemos há mais de 15 anos - era por meio de editais: as escolas inscreviam projetos, havia uma seleção e os recursos eram liberados. Contudo, percebemos a necessidade de ações mais amplas e de longo prazo e contratamos uma equipe pedagógica para estarmos mais próximos dos parceiros e acompanhá-los enquanto duram os programas financiados", conta Maria Lucia Guardias, gerente da área de Educação e Sociedade da Natura, empresa de cosméticos que atua em 250 municípios com o projeto Crer para Ver.

O gestor escolar tem de estar no comando das iniciativas

Ilustração: Anna Luiza Aragão

Parcerias de longo prazo exigem que a equipe gestora da escola esteja preparada para ser protagonista. E isso significa ter clareza sobre as necessidades do grupo, avaliar periodicamente os resultados e montar uma estrutura de relacionamento com o parceiro (veja o quadro com as ações de um gestor protagonista abaixo).

Para ser protagonista

Dicas de Marcos Antônio Biffi, professor da Universidade Municipal de São Caetano do Sul, Grande São Paulo, e de Emerson Morais, gerente-executivo do Sebrae.
1. Levante dados Entreviste a comunidade e analise o desempenho dos alunos para definir problemas, prioridades e objetivos.
2. Elabore um projeto Escreva uma proposta com as metas, os custos e as contrapartidas que a escola oferece para o possível parceiro.
3. Escolha o parceiro certo Busque entidades próximas com experiência em educação. Antes de marcar a reunião, conheça a missão delas.
4. Prepare-se para o encontro Seja claro nas intenções do projeto e evite o "pedagogês".
5. Invista na avaliação Explicite como serão medidos e divulgados os resultados.
6. Tenha iniciativa Preveja os possíveis problemas e tenha planos para resolvê-los.

O ideal é que a escola faça o diagnóstico de suas necessidades e inclua no projeto político-pedagógico quais ações necessitam de ajuda externa. Com conhecimento sobre aonde se quer chegar, fica mais fácil para o candidato a parceiro decidir se quer colaborar. A EMEF Heitor Villa-Lobos, em Porto Alegre, precisava de recursos para incrementar a orquestra de flautas criada pela professora de música Cecília Silveira. A receita da venda de CDs e das apresentações financia parte do projeto de educação musical da escola, como prevê o PPP. Mas quem poderia se interessar em relacionar sua marca a eventos culturais? A gestora não pensou pequeno e conseguiu o apoio da Petrobras, uma das maiores empresas estatais brasileiras (leia abaixo sobre a experiência
da escola).
Fonte: https://gestaoescolar.org.br/conteudo/581/parcerias-que-funcionam


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