Entrevista - Bonequismo levado a sério

Liz Schrickte Atriz e manipuladora de bonecos

Eu sou de Blumenau (SC), e já trabalhava com teatro lá. Vim a Belo Horizonte em 2008 para fazer um intercâmbio com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Comecei, aos poucos, a me interessar pelos bonecos e BH é uma referência neste gênero no Brasil, tem muita tradição. Temos aqui um festival internacional, que traz grupos importantes, e um público já mais formado, na comparação com o Sul do país. Era para eu ficar só por seis meses, mas entrei nesse meio e me apaixonei, nunca mais voltei. Hoje, faço parte dos grupos Pigmalião, Aldeia e Canguru, todos de bonecos.

Qual o maior encanto deste gênero?

Acho que é conseguir criar uma ilusão de que o boneco está vivo. É incrível como o público entra na história, como se deixa envolver. Como atriz, gosto muito de trabalhar essa relação entre manipulador e boneco, como se fossem duas pessoas em cena, não só uma.

Esse tipo de interpretação, em que o ator aparece mais é o que tem te interessado?

Com certeza. É difícil conseguir mostrar os dois lados, mas é sobre isso que eu tenho pesquisado mais. A gente sempre diz que o trabalho do manipulador é um pouco ingrato, porque, na forma tradicional, quanto melhor você é, menos você é visto (risos). Quero caminhar para o lado contrário.

Sim, vi muito isso lá. O ator é o tempo todo visto em cena, há uma simbiose magnífica com os bonecos. Você consegue estar em cena como ator, e, ao mesmo tempo, com o boneco. Eles coexistem no palco e isso é incrível. Eles não separam o que é teatro e o que é o teatro de bonecos, os atores não se escondem atrás dos bonecos. Eles assumem que estão manipulando os bonecos, tudo de uma forma muito natural.

Como surgiu a oportunidade do intercâmbio?

Eu estava na Europa, circulando com o Pigmalião, e vi pela internet. No meio do teatro de bonecos, todos se conhecem e umas cinco pessoas vieram me avisar que a seleção estava aberta (risos). Tentei e passei com mais três brasileiros.

A turnê pelo Brasil já estava prevista? Como são os espetáculos?

Sim, fazia parte do projeto de intercâmbio. O “João, o Indeciso”, é na língua tcheca e, como seria para crianças, precisaria de ter uma tradução. Mas ele é um espetáculo interativo e não dava para ser gravado. Então, nós, brasileiros, atuamos como narradores. Definimos junto com o grupo alguns pontos-chave para falar em português. Eles também aprenderam algumas frases em português, mas a maioria das falas é em tcheco. Nós somos esse elo do público com eles, e brincamos em cena com isso. Já “A Pequena Sereia” é gravado. Nós fizemos a gravação em português lá na República Tcheca. Depois, ensaiamos muito juntos, para ajustar tudo. Foi um intercâmbio intenso, de conhecimento, de cultura, de língua, em uma troca imensa. Agora, quero apresentar muitas coisas aqui do Brasil para eles. Acho que devia ter mais projetos de intercâmbio como este, porque foi muito bom para os dois lados.

Fonte: https://www.otempo.com.br/diversao/magazine/bonequismo-levado-a-serio-1.1068240

Comentários