Probabilidades de engravidar usando óvulos congelados são de 17% a 18% para cada 20 óvulos criopreservados até os 35 anos
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| Cláudia Natividade conversou com O TEMPO; leia
A ciência evoluiu a ponto de permitir que mulheres com mais de 40 anos tenham uma gravidez saudável, e o que é ainda mais incrível: com óvulos relativamente jovens. Mas o que todos os especialistas são unânimes em afirmar é que esses avanços não devem servir como incentivo para que as mulheres posterguem a maternidade.
“As mulheres devem optar pela criopreservação de óvulos quando realmente não houver a possibilidade de gestação imediata, por doença ou falta de parceiro. Quando adiam a gestação por razões profissionais, tendo um parceiro estável, podem estar perdendo a melhor oportunidade de engravidar e podem não conseguir o filho desejado futuramente, mesmo utilizado as técnicas mais avançadas de reprodução assistida”, adverte o ginecologista Ricardo Mello Marinho, diretor científico da clínica Pró-Criar.
“O congelamento não garante o mesmo índice de fecundação que o método natural. Para cada 20 óvulos congelados, a chance de engravidar é de 17% a 18%. Isso, para uma mulher que congele até os 35 anos”, complementa o doutor em genética reprodutiva Ciro Martinhago, diretor da clínica Chromosome Medicina Genômica, em São Paulo.
Até o momento, não há evidências científicas de que as crianças geradas por esses métodos vão ter mais ou menos problemas genéticos do que aquelas geradas naturalmente, mas a comprovação disso só virá com o tempo. “Ainda não temos estudos a longo prazo para analisar como serão esses filhos e, muito menos, os filhos desses filhos”, pondera Martinhago.
Possibilidades. Para quem tem receio de ter que abrir mão de muitas coisas pela maternidade, a psicóloga Cláudia Natividade, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG), traz um conforto. “Não significa que, a partir do momento que você vai ser mãe, você não vai ser mais nada. Isso é uma fantasia negativa. A mulher moderna quer ser muitas coisas: trabalhar, ser mãe, viajar, estudar. Nós precisamos conciliar todos esses momentos”, aconselha.
Apesar disso, ela reconhece que poder adiar a maternidade tem seus pontos positivos. “Esperar o momento em que se está mais consolidada no trabalho é um poder de escolha muito interessante para as mulheres. Significa uma gerência da própria vida muito maior do que se tinha anos atrás”, atesta.
Realizar o sonho não sai por menos de R$ 12 mil
Garantir a realização do sonho de gerar um filho é uma tranquilidade que não sai barato. Todo o tratamento, incluindo os medicamentos, não sai por menos de R$ 12 mil. Depois, há o custo de manutenção dos óvulos no tanque de congelamento, que fica em torno de R$ 1.000 ao ano.
Apesar do custo alto, quem tem isso como prioridade não hesita em declarar que não se incomoda. “O investimento é alto, mas eu me planejei. Paguei uma parte à vista e parcelei o restante”, diz a fisioterapeuta Renata*, 35, que congelou óvulos há um ano. “Minha médica fez uma comparação muito boa: congelar óvulos é igual a fazer seguro do carro. Você pode pagar e não usar nunca. Mas, se você precisar, ele está lá”, afirma a modelo Anuska Prado, 39, que tem óvulos congelados há quatro anos.
Leia mini-entrevista com a psicóloga Cláudia Natividade
Com o congelamento de óvulos, estamos prestes a entrar em um novo modelo de família, em que os pais são mais velhos?
OT
A família é, provavelmente, a instituição que mais mudou historicamente. Essas mudanças acompanham a rapidez das exigências que nós temos de tudo – demandas de trabalho, de afetividade, os modelos de conjugalidade. E a família provavelmente deve continuar mudando. Essa perspectiva do congelamento de óvulos aponta para isso.
CN
Há como prever se haverá maior choque entre gerações devido à diferença de idade?
OT
Não há como prever o que vai acontecer com os filhos quando eles tiverem 5 ou 10 anos. Tudo isso irá depender dos recursos emocionais individuais que os pais e mães vão ter para viver a experiência. O que sabemos é que a maturidade é um benefício para o próprio desenvolvimento dos filhos quando falamos do desenvolvimento cognitivo e emocional. Eu sou otimista com relação a essa troca entre as gerações, acho que cada uma contribui com um pouco.
CN
Como você vê a possibilidade de as mulheres congelarem seus óvulos?
OT
Esperar o momento em que se está mais consolidada no mercado de trabalho é muito interessante para as mulheres. Significa uma gerência da própria vida que não se tinha uns anos atrás. Por outro lado, ainda me preocupa o fato de a centralidade da maternidade ainda persistir na vida das mulheres. Ainda há essa ideia de que a mulher só vai ser realizar a partir do momento em que tiver um filho. Você também cai em uma espécie de cilada de que você tem que ter um filho, nem que seja aos 60 anos.
CN
“Você (pode cair) em uma espécie de cilada de que você tem que ter um filho, nem que seja aos 60 anos”
E a maternidade tardia também tem seus custos...
OT
Sim. O custo disso em uma idade mais avançada é que cuidar de filhos exige muito esforço físico! Você tem que acordar à noite, carregar carrinho, um monte de bolsas, correr atrás de criança. É uma grande ginástica, afinal. Uma mulher de 40, de 50 anos não tem a mesma disposição que uma mulher de 20 ou 30 anos. Ela tem que pensar como isso vai se dar e também se ela vai querer fazer esse investimento ou pagar esse preço, que é físico e afetivo também.
CN
Isso é algo em que as pessoas normalmente não pensam?
OT
A maternidade e a paternidade são romantizadas na nossa sociedade. E, para falar a verdade, acho que têm que ser mesmo, porque o cotidiano de se dedicar à criação de uma criança é muito duro. Se não tivéssemos essa romantização, provavelmente, não procriaríamos.
Fonte: http://www.otempo.com.br/m%C3%A9dicos-alertam-ideal-%C3%A9-ter-filhos-mais-cedo-1.1067636 |
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