Humor como arma eficaz

Norman Lear e Seth MacFarlane contam como usam suas criações para reafirmarem os direitos civis


TV GALANES LSPR 10
Encontro. Norman Lear e Seth MacFarlane conversaram em um restaurante em Los Angeles
Los Angeles, EUA. O roteirista e produtor de TV Norman Lear e Seth MacFarlane, cineasta e também criador de sitcoms, falam de família e motivação para seguir na carreira.
Vocês dois são incrivelmente prolíficos. Norman já emplacou sete séries no ar; Seth criou um pequeno império na animação, além de “Ted”. De onde sai tanta inspiração? 

SM: Necessidade – quando você olha sua agenda e vê 900 compromissos ali, não tem opção. O negócio é fazer tudo. 

NLMas, antes disso, a motivação vem da vontade de compartilhar e doar – e sentir prazer nisso. 

SM: Nunca quis fazer mais de um programa por vez. Quando “Uma Família da Pesada” foi cancelado, criei “American Dad”. Aí “Família” voltou. De repente, estava com duas séries, coisa que não queria. 

NL: Então por que manteve? 

SM: Boa pergunta. Não sei. Nove entre dez terapeutas diriam que a culpa é dos seus pais.

NL: Bom, tive uma mãe que, na época em que eu fazia mais sucesso, não abria a boca para falar uma palavra. Quando liguei para dizer que a Academia de TV tinha criado um Hall da Fama e os primeiros homenageados seriam Bill Paley, Edward R. Murrow, Milton Berle, Lucille Ball, Paddy Chayefsky, David Sarnoff e eu, ela respondeu: “Bom, se é o que querem, quem sou eu para dizer alguma coisa?”. 

SM: Aí está a sua resposta. É uma história engraçada, mas sinto muito por ser verdadeira. 

SMMas minha família não era assim. Entre si, meus pais tinham três empregos para que eu me matriculasse na escola de arte porque queria fazer animação. Se for para ir fundo, diria que a motivação está no desejo de fazer com que o sacrifício deles tenha valido a pena. De não desperdiçar a chance que me deram. Eu mesmo tenho dificuldade em acreditar nisso, mas não sou terapeuta.
Você consegue se imaginar pegando um trecho de um livro do Norman, sem pensar na história em si, para se concentrar nas questões sociopolíticas? 

SM: Não vejo... 

NL: Peraí, nunca acordei um dia e disse: “Ah, hoje vou começar uma organização”. Quis fazer um filme que recuperasse o direito religioso da mesma forma que Paddy Chayefsky resgatou a TV de rede em “Network”. Aí um dia vi um desses evangélicos que têm programa pedindo para o povo rezar pela saída de um juiz da Suprema Corte. Pensei: “Mas que merda, não tenho tempo de fazer um filme sobre isso!” Então fiz um anúncio público, com o apoio de líderes religiosos, que dizia: “Quem lhe diz que você é um cristão bom ou ruim baseado em sua ideologia política não segue o pensamento norte-americano”. Gostei da linguagem. Foi assim que começamos a “People for the American Way”. 

SM: E eu estou tentando aproveitar a deixa do meu amigo aqui em “Ted 2”, uma história sobre a briga pelos direitos civis só que personificada por Ted, que tenta ser reconhecido como gente pela Justiça, para poder se casar e ter filhos. Lidamos com a proposta da maneira mais realista possível, considerando que ele é um ursinho de pelúcia falante. Duvido que haja outro setor em que eu possa contar uma história de que eu gosto, divertida e interessante, da mesma forma.

E chegar a tantas pessoas. Vi o original no cinema, com um público muito diverso – grupos de rapazes, casais de namorados, até famílias com crianças que pareciam jovens demais para entender o humor. 

NLEssa garotada de que está falando vai sobreviver a tudo em “Ted” com muito mais facilidade que sobreviverá às pessoas que o condenam (o filme). Elas não prestam. 

SM: É a coisa mais legal que me disseram até hoje.

Fonte: http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/humor-como-arma-eficaz-1.1067200

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