Subdesenvolvimento e bolivarianismo

O subdesenvolvimento é um círculo vicioso que, para além de crescimento econômico pífio e insustentável, envolve precárias relações de mercado, baixos índices de desenvolvimento humano, ausência de cidadania plena e instituições democráticas frágeis e ameaçadas. Os neologismos politicamente corretos para subdesenvolvimento, tais como "países em desenvolvimento", "países emergentes" e outras invencionices, não passam de tapeação. O fato é que, durante o século passado, pouquíssimos países, independentemente de sua extensão territorial, lograram ascender à condição de plenamente desenvolvidos.

O Brasil, é claro, não estava entre eles. De acordo com a teoria, o círculo virtuoso do desenvolvimento só se instaura partir de um crescimento do PIB superior a 5% ou 6% ao ano durante, pelo menos, três décadas consecutivas. E olhe lá. O Brasil passou por um processo de modernização, digamos, incompleta, uma vez que limitada a certos setores econômicos e acertas parcelas da população. O crescimento negativo do setor industrial e os percalços da economia como um todo levam os especialistas a falarem de desindustrialização e desmodernização do país.

Na era da economia da informação, somos cada vez mais importadores de tecnologia e exportadores de "commodities", este outro neologismo para matérias-primas, cujas oscilações de preço no mercado são um prato feito para o insucesso. É o que ocorre na Venezuela, país altamente dependente da exportação de petróleo. O fato é que, se a modernização contribuiu para promover certas transformações sociais, ela não foi capaz de expurgar da vida política nacional as velhas oligarquias, o populismo e as oportunidades de todo tipo.
O que se apresentou como novidade e esperança na política brasileira hoje oscila entre a venalidade e o discurso socializante. É o quadro de subdesenvolvimento, manifestado na persistência da pobreza, nas legítimas aspirações populares e na fragilidade das instituições políticas, que favorecem a emergência de salvadores da pátria e o apego de frações consideráveis da população a ideias autoritárias de transformação social, inclusive pelas armas. 
O desastre do socialismo real de nada serviu para remover corações e mentes da fantasia revolucionária.
Na América Latina, onde as seguidas tentativas de integração econômica falharam por conta da instabilidade política e institucional, pelos desmandos internos a cada nação e pelo hábito de culpar o imperialismo norte-americano pelos fracassos, hoje campeia o bolivarianismo, este delírio alimentado pelo populismo autoritário de dirigentes políticos e líderes de movimentos sociais que usam e abusam de jargões marxista-leninistas das primeiras décadas do século passado.
A cada novo escândalo e a cada desacerto de uma política econômica, que põem em risco a imagem e a legitimidade dos detentores do poder, correspondem palavras de ordem e ameaças de uso da força por parte daqueles que tramam, em conjunto com as milícias populares venezuelanas, a transformação da América Latina num imenso paraíso tropical e socialista.

Por Flávio Saliba - Sociólogo e professor

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