Em 13 anos, salário 300% maior

Além dos vencimentos, parlamentares contam com benefícios que cobrem todo tipo de despesa


MISTAFOTO
Poder e dinheiro. Para especialistas, parlamentares brasileiros trabalham em benefício próprio
Enquanto os trabalhadores amargam ano a ano reajustes salariais, muitas vezes, sem ganhos reais, os agentes políticos obtêm saltos grandiosos em seus vencimentos. De 2001 até este ano, o salário dos deputados federais subiu de R$ 8.280 para R$ 33.700 mensais, um crescimento de mais de 300% em 13 anos. 
Mas mais do que a verba que é depositada todos os meses nas contas bancárias dos parlamentares, o pacote de regalias a que têm direito inclui serviços de luxo e vantagens que poucos brasileiros um dia já usufruíram (veja arte). Os deputados têm a opção de morar em um apartamento de 200 m² com quatro quartos, na área nobre de Brasília, com banheira de hidromassagem à disposição. Quem não se contenta com o espaço pode optar por receber R$ 4.300 mensais como ajuda de custo para bancar um aluguel.
Outra vantagem é poder se aposentar com o salário integral de R$ 33 mil, enquanto o teto pago pela previdência hoje é de R$ 4.400. O plano de saúde dos parlamentares também é consideravelmente mais vantajoso do que o Sistema Único de Saúde (SUS), já que, nos casos em que o atendimento é feito fora do Departamento Médico da Câmara, há reembolso integral das despesas. Tudo isso se soma a carros oficiais novos e dois períodos anuais de férias. Vantagens semelhantes também são disponibilizadas a senadores, ministros, juízes e promotores de todo o país.
Poder maior. A mestre em sociologia e política e professora da PUC de Minas Gerais Antônia Montenegro afirma que os agentes públicos brasileiros acreditam que, ao serem eleitos pelo povo, “ganham mais poder” do que o resto da população. “Há uma leitura de que, uma vez eleitos, eles ganham legitimidade para tomar todas as decisões. A falta de mecanismos para controlar a atuação desses representantes torna isso um vício. Nossos deputados personificam o poder e acham que podem falar em nome da sociedade, mas só falam em nome de si mesmos”, critica.
Ainda segundo a socióloga, considera-se a política como profissão. “Em toda profissão há uma defesa clara da categoria. No caso da política, o mesmo ocorre, mas com a ressalva de que eles não são profissionais”, completa Antônia Montenegro.
Já o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Flávio Testa afirma que o fato de os parlamentares legislarem sobre o Orçamento do país facilita a tomada de decisões incorretas. “Eles acham que fazem parte de uma elite que faz as regras do país, gerencia o Orçamento público e o divide pensando sempre de forma corporativista”, analisa Testa, que classifica as mordomias como um “exagero”. “Não é por acaso que a briga nas eleições para conseguir esses cargos é tão grande e cara”, completa.
O sociólogo da USP Antonio Carlos Mazzeo aposta que a única solução para dar fim a esse tipo de abuso é por meio de pressão popular.
Fonte: http://www.otempo.com.br/capa/pol%C3%ADtica/em-13-anos-sal%C3%A1rio-300-maior-1.1001621

Comentários