Trabalhando na corda bamba

Autores e diretores da teledramaturgia debatem o rumo que folhetins tomam quando esbarram em imprevistos


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O trabalho de um autor está sujeito a fatores complexos. O caráter aberto das novelas faz com que as tramas possam percorrer diferentes caminhos. Com o bônus dessa facilidade de ter muitas opções para explorar, vem o ônus de ter de lidar com imprevistos. Diante dos contratempos, eles precisam usar de muita criatividade para contornar o problema e evitar que o público sinta as mudanças repentinas. Durante as gravações de “Geração Brasil”, por exemplo, Taís Araújo engravidou. Os autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira tiveram, então, de encaixar a gravidez na personagem da atriz, Verônica. Já em “Vitória”, da Record, Cristianne Fridman precisou lidar com um problema previsível. O mau comportamento de Dado Dolabella durante as gravações no Caribe levou a emissora a desligá-lo do elenco. Fato semelhante já havia acontecido entre autora e ator em 2008, em “Chamas da Vida”. “Alterou toda a estrutura da novela. Todo mundo foi prejudicado, mas frustrações e problemas no percurso acontecem”, minimiza Fridman, que, para tapar o buraco deixado por Dado, acabou aumentando a importância do personagem de Rodrigo Phavanello.

A antecessora de “Vitória”, “Pecado Mortal”, também teve um percalço semelhante. Durante o folhetim de Carlos Lombardi, Mel Lisboa teve a oportunidade de interpretar Rita Lee em um musical e optou por deixar a trama no meio. Além disso, o diretor Alexandre Avancini foi realocado para atender às necessidades de um segundo horário de novelas e não pôde comandar a trama ambientada nos anos 70. Para Lombardi, apesar de desgastante, esses são acontecimentos normais. “Já tive de matar gente que pediu para sair, já tive gente que saiu sem nem pedir... Atores são doidos, faz parte”, diz o autor, com leveza. O argumento de Lombardi é sustentado por outras histórias semelhantes. Em 2011, Ana Paula Arósio estava escalada para ser a protagonista de “Insensato Coração”, da Globo. No entanto, a atriz não apareceu para as gravações e acabou sendo substituída por Paolla Oliveira. “A gente foi pego de surpresa. Quase enlouqueci, mas são momentos como esse que mostram o caráter aberto e o poder de superação de toda uma equipe”, argumenta o diretor Dennis Carvalho. A saída da mocinha não foi o único problema enfrentado pela trama de Gilberto Braga e Ricardo Linhares. Fábio Assunção, cotado para ser o vilão, precisou se afastar para cuidar da saúde. “É preciso ter jogo de cintura para mudar o que precisa ser modificado. Não adianta o autor se preparar antes”, argumenta Linhares.
No entanto, nem todos os imprevistos acontecem por pitis de atores ou por problemas de saúde. Às vezes, modificações precisam ser feitas para o melhor andamento do folhetim. É comum que personagens com mais aceitação do público ganhem mais espaço. Ao mesmo tempo que outros, descartados pelos telespectadores, tenham seu tempo em cena reduzido. Para Tiago Santiago, autor de novelas como “Amor e Revolução”, do SBT, é preciso estar sempre atento ao que pode mudar. “Há muitas viradas planejadas. Outras vêm completamente do nada. É preciso estar ligado”, defende o autor. Para Duca Rachid, que escreveu “Joia Rara” e “Cordel Encantado” ao lado de Thelma Guedes, é preciso ter leveza para fazer certas modificações. “O público precisa comprar a história. Senão, perde todo o trabalho construído”, opina.
Fonte: http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/tvtudo/trabalhando-na-corda-bamba-1.933513

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