Monges fazem iguaria milenar

Cerveja de monastério mais famosa da Alemanha é servida em pesadas canecas de vidro, com a cruz vermelha


Restaurante. O Zur Neuenburg, no bosque de Füssen Weihenste
Restaurante. O Zur Neuenburg, no bosque de Füssen Weihenste

Percorrer as autobahns alemãs é como deslizar em um tapete (voador, já que o velocímetro é liberado, ou sugerido a um máximo de 130 km/hora, para certos veículos e em determinados trechos)
Conduzida por um motorista croata e um guia moçambicano, comecei por Bayreuth, CEP da cervejaria Meisel’ Weiss (52% de álcool e toque leve de banana), com tanques em cobre, azulejos nouveaux, um simpático museu e as Bayreuthther Katakomben, com as catacumbas centenárias. A produção da casa é de 74 mil garrafas por hora, que vão parar pelo mundo, incluindo o Brasil.

Dali, seguimos para a cidade linda de Kelheim, onde fica o Mosteiro de Weltenburg e sua abadia erguida em 650, às margens do rio Danúbio. Colocar os pés na água limpa e gelada do rio é de refazer a alma, daqueles momentos que a gente não esquece jamais.
Distante de tudo, o Weltenburg conta com uma boa infraestrutura: restaurante enorme (melhor strudel da viagem), um animado biergarten, barcos para passeios no Danúbio e igreja barroca, com são Jorge no altar. Os monges beneditinos dali produzem, desde 1050, uma cerveja homônima (helles, clara; dunkel, escura; e bock, avermelhada). É a cerveja de monastério mais famosa da Alemanha, servida em pesadas canecas de vidro, com a cruz vermelha gravada (que acabou inspirando o símbolo da Cruz Vermelha).
História
Munique veio em seguida, a terceira maior cidade da Alemanha, uma das mais ricas (sede da BMW), mais animada e próspera, que foi mais de 70 vezes bombardeada durante a Segunda Guerra. O Castelo de Nymphenburg é visita imperdível, como Viktualienmarket, mercado ao ar livre no centro de Munique.
A cidade abriga ainda cervejarias como a Augustiner, a HB, a Paulaner. A Augustiner, de 1328, que transborda de gente (e cerveja), serve coisas como eisbein, kassler, coelho, chucrute e os spargels, os aspargos frescos (cuja safra é na primavera). Memorável.
A HB, a Hofbräu, outra cervejaria famosa, é enorme, linda, com bandinha tocando, gente circulando e cerveja HB nas canecas, de sabor amarguinho e picante. Hitler, dizem, frequentava a casa. Há salas privadas com palcos onde o Führer fez alguns pronunciamentos. 
Vínculos nos EUA e verde-amarelos
Contrastando com a modernidade, e indo em direção ao sul, aproximando-nos da Suíça, chegamos a Füssen, mais conhecida pelo Castelo de Neuschwanstein, que inspirou os estúdios de Walt Disney na concepção do castelo da Cinderela, no Magic Kingdom, na Flórida.
O acesso até o castelo pode ser feito de charrete (mas tem fila) ou a pé, em estrada em meio a um bosque lindo. Há biergartens pela área, mas ficamos com o clássico Zur Neuenburg, restaurante de Füssen, onde driblei as normas e tomei um riesling.
Füssen é próxima a Saint Gallen, cantão na Suíça com laços verde-amarelos: a sede da cervejaria Therezópolis, na serra fluminense, reproduz em seu biergarten um pouco dessa cidade encantadora (um dos fundadores da cervejaria nasceu ali), famosa pela sua imponente abadia (de 613), que abriga uma biblioteca espetacular, patrimônio da Unesco com um dos mais ricos acervos de livros do mundo, que inclui obras da Idade Média.
São 160 mil títulos distribuídos em um belo espaço (que se visita de chinelinho de flanela). Do acervo, 2.000 volumes são manuscritos, e 500 somam mais de mil anos. E, no charmoso centro de Saint Gallen, a boa cerveja é acompanhada da excelente queijaria suíça. 
Da mais antiga à mais poderosa
A cervejaria mais antiga do país, porém, fica em Freising: a Weihenstephan, na ativa desde 1040, tem um restaurante ótimo e abriga a melhor escola de formação de profissionais de cerveja do mundo. Todos os grandes nomes do mundo da cerveja saíram dos bancos da casa.
Se Weihenstephan é a mais antiga cervejaria alemã, a Erdinger Weissbräu, a 35 km de Munique, é a mais poderosa, famosa e moderna cervejaria do país. É a maior produtora de weizen (trigo) da Alemanha (e talvez do mundo). São 30 milhões de litros por ano para 40 países (com o Brasil nessa). 
Fonte: http://www.otempo.com.br/interessa/viagens/monges-fazem-iguaria-milenar-1.1067626


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