Mães autoritárias podem ter filhas com distúrbio alimentar

Para especialistas, pais precisam criticar menos e investir mais nos relacionamentos


A-G
Alerta. Lílian ouvia sempre do pai que mulher não pode ser gorda e se viu repetindo pressão sobre os filhos
Vítimas das atitudes dos próprios pais. É assim que pessoas que sofreram de distúrbios alimentares, como anorexia e bulimia, dizem sentir quando avaliam o que pode ter levado ao desenvolvimento das doenças.
A suspeita foi objeto de uma pesquisa realizada pela Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, que mostrou que as mães autoritárias podem criar filhas com distúrbios alimentares e habilidades sociais limitadas – insatisfação com o corpo, exagero com exercícios físicos e baixa autoestima.
Os transtornos alimentares são patologias multifatoriais, ou seja, com causas genética, familiares, psicológicas e até culturais, mas, quando o foco é na dinâmica familiar, a psicóloga especialista em transtorno alimentar e obesidade Fernanda Kalil conta que existe um comportamento importante a ser levado em consideração. “Mães que normalmente desvalorizam a autoridade do pai e, por sua vez, pais que não se posicionam abrem brechas”, afirma.
A psicóloga da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) Luciana Kotaka reconhece que “mães com padrão de beleza para si mesmas muito rígido acabam exigindo que o filho também seja magro”.
Carolina (nome fictício), 22, é estagiária em São Paulo e diz que hoje tem que se policiar para que não volte a desenvolver a bulimia. “Minha mãe sempre foi autoritária e me cobrava para emagrecer. Passei a não ter vontade de fazer nada e só assim ela passou a me pressionar para comer mais”, conta a garota, que chegou a usar laxantes e dietas desequilibradas para perder peso.
“Pessoas acima do peso normalmente não conseguem se valorizar, então engolem muita coisa. Por isso, vejo a bulimia como uma forma de vomitar o que está engasgado. Na anorexia, já é a rejeição da função materna, então a pessoa se recusa a comer”, alerta Luciana.
A intervenção familiar para tratar não só o filho, mas também orientar os pais e aprofundar nas causas que são o reflexo da dinâmica familiar seria o ideal nos casos de transtornos alimentares, mas nem sempre isso acontece. “Os pais precisam investir mais no relacionamento do que nas expectativas, se o filho está magro, se vai fazer medicina, se tem notas boas”, afirma Fernanda.
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DadosPesquisas revelam que os transtornos atingem 90% de mulheres, com incidência maior aos 16 anos. No Brasil, a anorexia chega a 3% da população, e a bulimia, a até 2%.
Discurso do pai foi passado aos filhos, relata dona de casa

“Sou carioca e fui criada pelo meu pai, que, durante toda a minha infância e adolescência, falava que mulher não podia ser gorda. Depois da terceira gravidez, engordei e entrei em pânico. Sempre fiz academia e, há dois anos, sem perceber, comecei a usar laxantes e diuréticos. Eu me pesava diariamente e passei a querer comer 300 calorias por dia, depois 100, 50, até que deixei de comer. Estava fraca, e meu marido começou a perceber. Aí passei a vomitar. Fui internada por duas vezes e poderia morrer. Hoje sei que sou doente e não posso deixar de tomar os medicamentos. Antes, passava para meus filhos a mesma preocupação com o corpo de que meu pai me falava. Meu filho malha desde os 12 anos, e o de 3 diz que não quer comer algumas coisas para não engordar. Hoje, meu discurso mudou, e sei que tudo tem limite”. O desabafo é da dona de casa Lílian Cabral, 38, que teve anorexia e bulimia.

Fonte: http://www.otempo.com.br/interessa/m%C3%A3es-autorit%C3%A1rias-podem-ter-filhas-com-dist%C3%BArbio-alimentar-1.724395

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