A política nem sempre busca o bem comum


Pode ser mera especulação que o mundo político também se move em função dela, à vista de objetivos verossímeis e pouco ou nada nobres. Neste mundo, nada acontece por acaso. Não raro, por baixo da aparência, está cravada uma motivação danosa ou sórdida.

Sem embargo de haver sido Adão concebido para ser um anjo e viver feliz no Éden, houve algo de imprevisto quando moldou-se-lhe a natureza, que Deus desejou esculpir angelical. Mas como seria possível o Criador cometer um erro ou um engano ao praticar o ato supremo da criação humana?

Segundo o jansenismo pascalino, o homem é “ange et bête”. Se, na origem, dotou-se a criatura humana com o bem, em contrapartida, por meio de um fenômeno que desconhecemos, permitiu-se-lhe que se contaminasse pelo mal. Santo Agostinho sustentou que, onde se instala o bem, o mal se afasta. Porém, não desaparece. O compromisso fundamental com o bem o mantém à distância, preparado para agir com as garras para dominar o ser humano. Não tomo parte na tertúlia. Acredito no bem como temo o mal. É preciso vigiar constantemente, como insistia Cristo, e não deixar-se ceder às investidas do mal.

A política, está no mestre Aurélio, “é a arte do bem governar os povos”. O mundo ético-cristão tomou a si a definição. Daí a natureza democrática da política como arte. Nem por isso, entretanto, a arte desaparece em ambiente autoritário. Ela sempre sobreviverá, ainda que mal respire nos porões onde o ar quase inexiste.

Os acontecimentos que envolvem o nosso país em ambiente de agitação dos quadros político-partidários fogem da capacidade de previsão dos melhores analistas, mesmo quando (e não há como ir além) lidam com hipóteses, já porque a hipótese é sempre originária de uma conjetura, um acontecimento incerto. Ora, a incerteza é o fator dominante na nação, em particular na esfera política e no âmbito econômico.

O que sobra do apoio parlamentar é frágil e inconstante, reflexo do baixíssimo nível de aceitação da presidente, da ira popular disseminada e de inegável e consequente perda de legitimidade. Menciona-se frequentemente o impeachment, solução nascida na Inglaterra, durante o reinado do rei Charles I, no século XVII. Séculos mais tarde, os constituintes de Filadélfia incluíram na Constituição dos Estados Unidos os mesmos princípios e procedimentos, em casos iniciados a partir de 1789, perfazendo 62 vezes, duas delas contra dois ex-presidentes.

As constituições republicanas do Brasil sempre acolheram o mecanismo, só aplicado uma única vez (Collor). A sua eventual utilização não é golpe de Estado, como alega o PT, porque é remédio constitucional. Golpes militares foram as deposições de dois presidentes em exercício (novembro de 1955 e o de 31 de março de l964).

Também se fala, agora, em estratégia adotada pelo PSDB: “Chega de farsa! A oposição não quer derrubar Dilma. Prefere vê-la se arrastar, exangue, até o último dia do seu mandato. Por que o risco de substituí-la já?” (Ricardo Noblat, em “O Globo”). E os riscos a que expõem a sociedade brasileira? Acaso não destroem a saúde da nação?

Fonte: http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/m%C3%A1rcio-garcia-vilela/a-pol%C3%ADtica-nem-sempre-busca-o-bem-comum-1.1070608

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