A água como eixo orientador da gestão pública e a crise atual

Rios são informações que fluem, mostram a nossa cara.
A crise civilizatória é a mãe de todas as crises e colapsos. Sua expressão hídrica mundial é a culminância de um sistema insustentável de produção e consumo. No Brasil, a escassez e as inundações, em momentos quase simultâneos e territorialmente coincidentes, exibem um desgoverno. Mas, paradoxalmente, não é prioritariamente crise de gestão nem crise climática, nos sentidos correntes. Ela reflete uma crise do pensamento hegemônico, leva a questionar universidades, sistemas de consultorias, administração pública e legislação. Acostumados ao aprendizado analítico por disciplinas e subespecializações, os técnicos costumam levar às empresas e ao Estado a visão disjuntiva de tratar os problemas em separado, promovendo soluções segmentadas que não se casam, gerando novos problemas correlatos, mais demanda de obras e mais impostos.

O colapso dos sistemas acontece no auge deles, quando uma grande demanda de “energia” não é correspondida por adequada realimentação nas diversas dimensões das demandas crescentes, sejam cidades, países, empresas, famílias etc. Veja-se o exemplo da torre de Babel.Compare-se com a confusão diagnóstica no atual enfrentamento do fenômeno da escassez hídrica pelo governo e uma força-tarefa! Não precisa disso tudo; a água é sutil e casta, precisa de jeito manso,colhendo as gotinhas e enterrando- as suavemente nos reservatórios subterrâneos criados por Deus, antes de as empreiteiras e de as mineradoras removerem nossas montanhas. 
Acontece o mesmo atropelo quando tratam das inundações urbanas. Atribuem- na à chuva forte, como a escassez à pouca chuva num ano, ao banho demorado, à falta de obras de engenharia, à falta de verbas. A chuva não passa da gota d’água que nos acode com seus ciclos anuais e plurianuais. Temos como guardá-la no chão. Enquanto isso, autoridades gastam cifras enormes com canalizações desnecessárias de rios, constroem avenidas marginais aos leitos e sobre os rios, que se tornam fonte permanente de conflitos entre equipamentos urbanos e as águas. Utilizam métodos erosivos de cuidar do solo rural e impermeabilizam áreas urbanas. Sempre agredindo os Ecossistemas como rotina e com “convicção”. A água disponível nos rios se torna escassa, atinge a Fauna, o solo é deteriorado. Claro, nós separamos as águas dos geoecosistemas. Água tem a ver com chuva, sim, mas também com solo, plantas e bichos. 
Claro que a gestão é tia, e não mãe da crise. O racionamento, as sobretaxas ao consumo humano e as obras de engenharia, sob cobertura do anunciado estado emergencial, não dizem nenhuma palavra ao setor econômico beneficiado com outorgas distribuídas às cegas e praticamente gratuitas: R$ 0,01 por mil litros, livres de fiscalização e medição. Claro, isso seca as nascentes, córregos e rios e os reservatórios da Copasa e os serviços autônomos de água e esgoto. Por que só cobrar e culpar quem já paga e é prioridade legal? 
De benéfico, esta crise está possibilitando colocar a água como eixo orientador da gestão pública, eixo mobilizador e método transdisciplinar de pesquisa para equacionar e resolver a crise. Isto pode beneficiar a solução de outras crises derivadas dos mesmos princípios que regem essa realidade complexa como é a geoeco- sistêmica. É um equívoco conceitual primário atribuir essa crise hídrica a uma crise climática, às Emissões de carbono ou aos deuses. Claro que a matriz centrada nos combustíveis fósseis deve ser substituída, mas a superação da crise hídrica está associada ao papel pedagógico e metodológico vinculado à água nas bacias hidrográficas e ao ciclo hidrológico. O espírito de Deus paira sobre as águas, rios são informações que fluem, mostram a nossa cara.

É um equívoco conceitual primário atribuir a presente crise hídrica a um problema climático, às Emissões de CO2 ou aos deuses.

(*) Idealizador e fundador do Projeto Manuelzão
Fonte: http://www.cliptvnews.com.br/mma/amplia.php?id_noticia=118669

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