De junino a fitness

A oleaginosa vai muito além do pé de moleque do São João: vai bem em pratos salgados, em doces e ainda pode ser consumida sem culpa por aqueles que querem perder peso

Lygia Calil

Não dá para negar que o amendoim, no Brasil, tem cara de ingrediente junino. Basta pensar em delícias dessa época: pé de moleque, pé de moça, amendoim doce crocante (praliné), canjica… Mundo afora, há também muitos pratos salgados que aproveitam sua crocância, em especial, aqueles com acento oriental – ele é bem típico das cozinhas chinesa e tailandesa. Recente “descoberta” dos adeptos de uma vida mais fitness, quem diria, agora ele também figura em receitas lights. Não que ele não seja calórico (ele é), mas as outras propriedades nutricionais compensam isso. E, como explica a nutricionista Vanderlí Marchiori, que estuda a oleaginosa desde 2002 para a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), engordar ou não depende de como ele é consumido. “Por uma questão cultural, costumamos relacionar o amendoim a pratos doces. Mas ele é, na verdade, um ingrediente bem versátil”, diz ela.

Sob encomenda da associação, ela cria receitas para explorar os benefícios da castanha, de uma forma que as calorias sejam controladas. Em geral, são receitas funcionais, como o biscoito de amendoim e o bolo de caneca fit com pasta de amendoim – ambos destacados nestas páginas. “O ideal é que eles sejam refeições intermediárias, consumidas entre as principais. Fazer um lanchinho por volta das 17h ajuda na reeducação alimentar, porque controla a fome. Tudo isso se reflete na redução de peso”, afirma a profissional.

Claro que cabem ressalvas. “O amendoim pode ser um ótimo aliado na dieta, mas é preciso bom senso. Não adianta achar que vai emagrecer comendo pé de moleque, que basicamente é açúcar puro, e outros doces hipercalóricos. O ingrediente é muito saudável, mas tem que estar inserido em uma dieta equilibrada. Ele não faz milagre”, completa Vanderlí.

Pratos. Se como petisco cai bem, como prato principal também pode brilhar. Especialmente para o Gastrô, os chefs Mauro Bernardes, do restaurante Ficus, e Sebastião Ferreira, da steakhouse República da Esbórnia, criaram pratos em que aproveitam seu sabor.

Mauro preparou um camarão empanado no amendoim para acompanhar uma lasanha de vatapá, que leva pupunha no lugar da massa. E gostou tanto do resultado que vai inclui-lo no menu de Dia dos Namorados do Ficus. “É que o amendoim é afrodisíaco”, brinca.

Na avaliação do chef, o ingrediente não é tão valorizado como deveria nas cozinhas de restaurantes. “Ele é ótimo, muito versátil e fácil de ser assimilado. Mas é um pouco desprezado pelos chefs. Uma pena”, diz.

Já a escolha de Sebastião é mais simples, mas não menos curiosa: filé grelhado ao molho de amendoim. “Gosto de acompanhar este prato com guarnições mais doces, que combinam bem com o sabor do amendoim”, diz ele.

Para ele, o amendoim é um grande ingrediente para finalizar os pratos. “Em massas, risotos e purês, salpicar um pouco por cima sempre cai bem, para dar uma crocância e um sabor especial. É fácil trabalhar com ele”, afirma.

Sobremesas. A explicação para o amendoim ser típico dos festejos caipiras de junho é simples: essa é a época da colheita da planta – assim como a do milho, igualmente associado às festas de São João, Santo Antônio e São Pedro.

O chef pâtisser Guilherme Poulain criou um bolo que ele apelidou de Mineirinho, com doce de leite, chocolate e amendoim. Já Grace Alonso, que comenda a loja Santo Docinho, tem um brigadeiro sazonal feito com paçoca.

Alerta. Amendoim é um dos oito itens que mais causam alergia alimentar. É por isso que ele é proibido para menores de quatro anos de idade. Segundo a nutricionista Vanderlí Marchiori, ao oferecer o alimento pela primeira vez à criança, é melhor prestar atenção ao aparecimento de reações, como dificuldade de respirar. “Ao primeiro sinal delas, correr para o hospital”, diz.

Fonte: http://www.otempo.com.br/gastro/de-junino-a-fitness-1.1046693