Máfia italiana estaria usando imigrantes como mão de obra

Recém-chegados ficam presos por dívidas impagáveis em troca da promessa de visto


Roma, Itália. A jornada muitas vezes mortal de travessia do mar Mediterrâneo pode ser apenas um dos percalços pelos quais os migrantes que saem da África com destino à Europa têm que passar. O Ministério Público italiano, que começou a investigar o assunto no ano passado, descobriu que a máfia siciliana pode estar aliciando os imigrantes para trabalho praticamente escravo. 

Muitos estão presos por dívidas que nunca poderão pagar, em troca da promessa de um visto. Outros enfrentam trabalho e prostituição forçados. De acordo com o Ministério Público, haveria inclusive conhecimento e até conivência dos órgãos públicos com essas práticas.
Os mafiosos do Cosa Nostra controlam até os centros de acolhimento aos imigrantes. Outra grande preocupação do governo italiano é em relação às crianças e aos adolescentes que chegam ao continente desacompanhados.
Combate. O governo da Itália pediu aos sócios da União Europeia (UE) um combate conjunto aos traficantes de seres humanos no Mediterrâneo, “comerciantes de escravos do século XXI”, e propôs uma intervenção a longo prazo para ajudar na estabilização dos países ao sul da Líbia.
Em discurso na Câmara dos Deputados, após um minuto de silêncio pelas 800 vítimas do naufrágio de domingo passado, o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, afirmou que “o que acontece hoje com o tráfico de pessoas” lembra a época em que se enviavam milhares de escravos da África para o continente americano.
“Não é apenas uma questão de segurança e de terrorismo, e sim de dignidade humana”, declarou, um dia antes de uma reunião europeia que deve adotar medidas para lutar contra o tráfico de imigrantes no Mediterrâneo. Renzi, que se mostrou otimista a respeito da reunião, falou no domingo sobre a possibilidade de “intervenções dirigidas” contra os traficantes na Líbia.
A ministra da Defesa, Roberta Pinotti, afirmou que a Itália está “disposta a ficar à frente de uma missão internacional”, se esta for aprovada pela ONU e UE.
Renzi pediu um reforço das operações de vigilância marítima Triton e Poseidon, mas alertou contra as soluções simplistas. As causas da imigração devem ser combatidas “da raiz”, disse o chefe de governo italiano.
Ao lado da ONU, a Europa “deve ter uma estratégia a longo prazo na África”, com uma presença forte nos países ao sul da Líbia. “A África deve se tornar o elemento-chave da política italiana e mundial”, disse.
Meio milhão
O número de imigrantes que atravessam o Mediterrâneo pode aumentar neste ano para 500 mil se nada for feito para conter os traficantes de pessoas, alertou ontem o secretário geral da Organização Marítima Internacional das Nações Unidas, Koji Sekimizu. “Está na hora de pensar em como acabar com a passagem perigosa desses imigrantes. Temos de agir”, afirmou ele.
Fonte: http://www.otempo.com.br/m%C3%A1fia-italiana-estaria-usando-imigrantes-como-m%C3%A3o-de-obra-1.1028152

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