Atentado na França. Por que novamente em Paris?


Policiais orientam as pessoas em frente ao Stade de France após ataque (Foto: Michel Euler/AP)

Estado Islâmico atacou capital francesa e deixou 129 mortos e 352 feridos; presidente da França disse que ataques foram planejados fora do país com ajuda interna

Público no campo do Stade de France após a série de ataques (Foto: Michel Euler/AP)
Público no campo do Stade de France após a série de ataques (Foto: Michel Euler/AP)
Foi o segundo grande ataque a atingir Paris em menos de um ano, e uma das tantas perguntas que surgem é: por que a França novamente?
O grupo autodenominado "Estado Islâmico" assumiu a autoria dos ataques na capital francesa na sexta-feira, que deixaram pelo menos 129 mortos e 352 feridos. O grupo disse que os atos foram "cuidadosamente estudados", mas ainda estão emergindo os detalhes sobre como eles foram concretizados.
O presidente francês, François Hollande, disse que os ataques foram planejados e organizados no exterior, com ajuda interna. Pouco se sabe sobre os sete atiradores que foram mortos: um seria francês, e dois passaportes, um egípcio e outro sírio, foram encontrados.
Veja abaixo cinco pontos que ajudam a entender por que a França tornou-se alvo novamente.
1. Fricções étnicas
A França tem a maior população muçulmana na Europa: cerca de 5 milhões, ou 7,5% dos habitantes. E, segundo analistas, é uma das sociedades mais divididas no continente.

A integração de muçulmanos no resto da sociedade francesa já era questão delicada no país antes dos ataques de janeiro ao semanário satírico Charlie Hebdo e a um supermercado judeu, que chocaram a França e o mundo - e essa integração ainda pode piorar, dizem especialistas.
Há um aparente questionamento de gerações mais novas de famílias de imigrantes, supostamente descontentes quanto ao estilo de vida mais liberal do Ocidente, a tolerância e diversidade religiosa e a liberdade de expressão.
"Os ataques são uma lembrança das fricções étnicas que se arrastam na França", disse a consultoria de análise política Stratfor.
Muitos muçulmanos teriam, ainda, a percepção de estarem à margem da sociedade, isolados ou mesmo excluídos.
"A França é o país na Europa onde o debate sobre o lugar do Islã dentro da sociedade é o mais difícil e mais duro. A maioria dos franceses acha que o islamismo, em geral, não é compatível com a laicidade francesa. E há uma tensão muito forte entre os radicais islâmicos e a França", disse à BBC Brasil Alfredo Valladão, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
A polêmica proibição do uso do véu islâmico de corpo inteiro por mulheres, por exemplo, foi interpretada por alguns muçulmanos como uma decisão contra o islamismo.
Os ataques atingiram bares e restaurantes, um show de uma banda de rock e os arredores de um estádio de futebol em horário de grande movimento. O 'EI' afirmou que Paris é a "capital da abominação e perversão".
Segundo Valladão, Paris é alvejada por ser um "símbolo de liberdade".
"A questão do Islã e dos muçulmanos em geral se transformou num grande debate ideológico interno. E é claro que com uma coisa desse tipo (...) é possível que eles (muçulmanos) sejam ainda mais estigmatizados, o que pode criar ainda mais radicalismo".
2. Radicalização e extremismo
A França tem sido a maior fonte, na Europa, de combatentes estrangeiros que se juntam a grupos radicais no Oriente Médio.

Um relatório do Centro Internacional para o Estudo de Radicalização e Violência Política do King's College, de Londres, apontou no início deste ano que das cerca de 4 mil pessoas que deixaram a Europa Ocidental para se juntar a grupos extremistas como o EI na Síria e no Iraque, aproximadamente 1,2 mil saíram da França. E muitos deles retornaram.
A França, aliás, fica atrás apenas de Arábia Saudita, Tunísia, Jordânia, Marrocos e Rússia como maior emissor de combatentes para estes grupos, segundo o relatório. Estima-se que 20 mil estrangeiros de 80 países tenham ido à Síria e ao Iraque para lutar com militantes.
Por muitos anos, os subúrbios de Paris e outras cidades foram vistos como terreno fértil para extremistas islâmicos, que recrutavam jovens muçulmanos descontentes com desemprego e ostracismo.
Outro lugar fácil para radicalização, dizem especialistas, são as prisões francesas: estima-se que 60% dos 70 mil detentos no país tenham origem muçulmana, e grupos extremistas estariam se aproveitando disso para recrutar colaboradores.
"Eles foram destruídos pelo fracasso educacional, problemas de família e emprego. São muito frágeis", disse à BBC Missoum Chaoui, líder muçulmano de Paris.
Fonte: http://ultimosegundo.ig.com.br/mundo/2015-11-14/por-que-novamente-em-paris.html

Comentários