Abrigos têm vagas apenas para metade da população de rua

Reportagem de O TEMPO passou três horas em centro público de acolhimento, no bairro Floresta
ALBERGUE DE MORADORES DE RUA
Deixar de viver em vias públicas é desejo de 94% dos 1.827 moradores de rua de Belo Horizonte, segundo o censo mais recente sobre essa população, feito em 2013 pelo Centro Regional de Referência em Drogas da Faculdade de Medicina da UFMG, em parceria com a prefeitura. Para tentar entender como é o cotidiano da população de rua e que tipo de estrutura esse grupo tem nos abrigos públicos masculinos, femininos e familiares municipais – que contam com 952 vagas, segundo a Secretaria de Assistência Social –, a reportagem de O TEMPO passou três horas no albergue masculino Tia Branca, no bairro Floresta, na região Leste. A instituição chega a receber 400 pessoas, a capacidade máxima, segundo o coordenador de atendimento social, Fábio Eduardo Pereira. 
A entrada é permitida das 17h30 às 20h30. Depois desse horário, quem sai não pode mais voltar. As noites no albergue são definidas por regras, como horário de banho e de alimentação e proibição de cigarros e bebidas alcoólicas. Às 7h, após o café, os albergados têm que deixar o local.
Durante a estadia, os frequentadores recebem uma toalha e sabonete para tomar banho e têm acesso ao pátio de convivência, onde muitos ficam até a hora de dormir. Quartos e banheiros não têm porta, o que afeta a privacidade. O cômodo onde eles guardam os pertences também não têm portas, apenas prateleiras para os objetos. Muitos dos abrigados reclamam de roubos.
“A senhora acredita que roubaram meu chinelo aqui?”, diz J.S., 52, que preferiu não ser identificado. “Tem muita gente honesta, mas também tem muita gente que rouba. Já me roubaram cobertor, roupa e até papelão”. Equipes de psicólogos e assistentes sociais ficam no local durante o dia e, à noite e de madrugada, seguranças fazem a vigilância.
O abrigo possui diversos cômodos, com cerca de 15 camas cada, mas há quem prefira dormir no chão do pátio. “As camas são cheias de percevejos”, conta o morador de rua Edivânio Souza, 40. Por causa disso, José Eduardo, 32, prefere ficar nas proximidades da praça da Estação, no centro, onde vive. “Eu não vou para o abrigo, não. Quando fui, voltei cheio de picadas, tive que me raspar todo, até debaixo do braço”.
Isso, no entanto, não significa que a rua seja a melhor opção. “A gente está ficando sem lugar. Para dormir na grama ou no chão, temos que olhar se existem pedras e pedaços de pau por perto, para não correr o risco de ter a cabeça esmagada durante a noite”, diz José Eduardo, referindo-se à violência.
Déficit. Considerando os abrigos para a população em risco geográfico (que precisou deixar casas em áreas de risco) e o Pós-Alta – para onde moradores de rua vão após ter alta hospitalar, mas ainda não podem voltar para as ruas por questões de saúde –, Belo Horizonte tem 952 vagas para moradores de rua, 400 a mais que as de 1992, quando foi criado o primeiro abrigo.
O aumento da oferta de vagas não acompanhou o da demanda, já que em oito anos a população de rua cresceu quase 60% (leia mais no infográfico abaixo).
Carlos Prates
Mais um. Em dezembro de 2014, começou a funcionar em esquema de teste um centro de acolhimento no bairro Carlos Prates, na região Noroeste. O local, com 44 vagas, será inaugurado oficialmente em abril.
Fonte: http://www.otempo.com.br/cidades/abrigos-t%C3%AAm-vagas-apenas-para-metade-da-popula%C3%A7%C3%A3o-de-rua-1.1012997

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