Sintonia fina na televisão

De olho na memória afetiva do telespectador, novelas bisam pares românticos e atores driblam a mesmice


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A telenovela mudou muito ao longo de seus 60 anos de indústria. Mas alguns pilares folhetinescos, como os tortuosos caminhos que unem o herói e a mocinha da trama, permanecem intactos. A escalação dos atores para viverem essas histórias continua a ter importância fundamental para a fluidez e empatia da trama. E, muitas vezes, a sintonia à frente das câmeras acaba fazendo com que esse pares sejam repetidos em outros trabalhos. Durante anos 60 e 70, escalar duplas que obtiveram êxito em tramas anteriores era garantia de sucesso de audiência e dava identidade aos folhetins. Atualmente, o público costuma reclamar pela sensação de déjà vu romântico. Apesar disso, tramas recentes insistem em escalar pares já feitos no passado. “Babilônia”, por exemplo, marca o terceiro encontro de Gloria Pires e Cássio Gabus Mendes na ficção. Os dois já tinham contracenado em “Vale Tudo”, de 1988, e em “Desejos de Mulher”, de 2002. “A televisão é um ótimo lugar para reencontros. No meu caso com o Cássio, eles demoraram a acontecer. Por isso, a gente não tem nenhuma dificuldade ou cuidado em não se repetir. As coisas aconteceram em idades e situações diferentes”, ressalta Glória.

Em “Sete Vidas”, atual novela das seis, a preocupação de não se repetir em cena está na ordem do dia. Tudo porque, em apenas três anos, é a terceira vez que Jayme Matarazzo e Isabelle Drummond se envolvem em novelas. A primeira vez foi em “Cheias de Charme”, de 2012. E estiveram no mesmo núcleo de “Sangue Bom”, de 2013. “Acho que, ao contrário dos outros papéis, dessa vez a gente vive tipos muitos mais maduros, com outras referências, isso acaba dando um peso maior à história e a repetição não chama a atenção do público”, acredita Jayme. Para Isabelle, voltar a contracenar com Jayme confirma a amizade e o bom desempenho dos dois como casal. “É muito mais fácil fazer cenas complexas ao lado de alguém que você confia e admira”, elogia a atriz.
A fórmula de juntar atores conhecidos do grande público novela após novela já formou pares clássicos na teledramaturgia, como Tarcísio Meira e Glória Menezes, Yoná Magalhães e Carlos Alberto, e Eva Wilma e Carlos Zara. No caso de Regina Duarte, em vez de apenas um par, ela dividiu ao longo da carreira quatro novelas com Cláudio Marzo: “Véu de Noiva”, “Minha Doce Namorada”, “Carinhoso” e “Irmãos Coragem”. E com Francisco Cuoco: “Legião dos Esquecidos”, “Selva de Pedra” e “Sétimo Sentido”. “No passado, o público vibrava ao saber que um casal iria retomar a parceira. Era uma loucura! Trabalhar com o Marzo e o Cuoco virou uma constante na minha vida. Ao longo dessas tramas, beijei, briguei e chorei muito com eles e por eles”, relembra a atriz, emocionada.
Com pouco mais de uma década de “renascimento”, a teledramaturgia da Record também tem seus casos de repetição de pares. Gabriel Braga Nunes e Paloma Duarte formaram um casal em “Terra Nostra”, exibida pela Globo em 1999. Na Record, os dois voltaram a contracenar como par em “Cidadão Brasileiro” e “Poder Paralelo”. Mesmo com um elenco reduzido, a emissora tem evitado bisar seus protagonistas. Sendo assim, vai levar tempo para que seus atores rocem os recordistas nesse quesito na teledramaturgia recente da Globo: Cláudia Raia e Alexandre Borges. Entre “Engraçadinha”, de 1995, e “Ti-ti-ti”, de 2010, a dupla já deu vida a seis casais. “Brinco que Alexandre é o homem com que mais tenho intimidade. Já fomos da comédia ao drama, já rolamos na lama. É bom trabalhar com quem tenho afinidade. Afinal, casal romântico em novela se beija muito, né?”, provoca Cláudia.
Fonte: http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/tvtudo/sintonia-fina-na-televis%C3%A3o-1.1025535

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