Por que as árvores caem?

artigo de Edézio Teixeira de Carvalho

Caem porque estão velhas, porque estão doentes, porque estão de pé, quando não deveriam. Para simplificar o que segue, tomo a árvore como representante do transitório e a água como o do itinerante. Árvores do jardim botânico são substituídas ou não conforme um plano de manejo, suponho; as do parque urbano, livremente visitado, parecem merecer cuidados maiores com a segurança dos visitantes; quanto às perfiladas ao longo das vias públicas, por sua grande interferência com a vida urbana, devem ser objeto de critérios especiais de escolha, de limitação da idade com que devem ser substituídas. Como a decisão de manter árvores nas cidades até sua morte natural é mais ou menos recente, penso que as mortes de pessoas por quedas de árvores no Brasil aumentarão no futuro, acompanhando as árvores, cada vez mais velhas.
A propósito, se desejamos uniformidade de conformação e de qualidade dos passeios, não parece haver dúvida de que a responsabilidade por eles deve ser do poder público (um responsável, garantindo pelo menos uniformidade, com muitos fiscais) e não o oposto como é em muitas cidades (muitos responsáveis e um só fiscal, nem sempre atento).
Então já temos árvores e passeios a cuidar; voltando ao início lá acima temos também o itinerante, a água, a cuidar, e precisamos de árvores para ajudar a fazê-lo conduzindo a água para uma infiltração eficaz; portanto o leitor não se assuste, que não estou dispensando as árvores, mas propondo repô-las na idade certa, que é a proposta. Custará caro? Evidentemente não! Será lucrativo para a cidade que se dispuser a fazê-lo, pois além do lenho que deve valer alguma coisa, serão economizadas algumas vidas humanas, a paciência de muitos e horas de cidades paradas removendo troncos e refazendo linhas elétricas e telefônicas.
O artigo ficou parado neste ponto desde o início de dezembro passado. Parece-me hoje que eu adivinhava que o verão pouco chuvoso seria pródigo em derrubadas de árvores, acrescentando uma lição a mais que a natureza nos oferece. Pois não é que ontem caíram árvores pertinho de onde trabalho?
Há uns poucos anos num domingo vi uma árvore caída em Belo Horizonte na esquina de Contorno com Ceará. Corri a casa para apanhar uma câmara fotográfica e fiz uma tomada pouco comum, porque, da árvore até um suporte próximo, uma faixa com a palavra “vendo” caíra junto substituindo para quem passava, o apartamento objeto da venda pelo tronco e galharia da árvore que acabara de cair. Hoje passei por lá, e contemplei uma bela árvore de dois metros de altura, no lugar daquela cujo fim presenciei, e fiquei imaginando a Contorno inteira com árvores assim, algumas maiores e outras menores. Se as árvores integram o componente transitório, mas são todas diferentes sem exceção, por que recebem exatamente o mesmo tratamento, como se houvesse um plano para que todas fiquem esperando a hora da ventania que um dia as levará?   
Belo Horizonte, 04/02/2015 
Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo.
Geolurb - Geologia Urbana e de Reabilitação Ltda

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