Mais espaços para arte

Por uma infraestrutura mais a serviço do público; artistas e produtores defendem diversidade de usos dos novos equipamentos culturais de BH
Diálogos Cênicos
CARLOS ANDREI SIQUARA
Nos últimos anos, um conjunto de novos equipamentos culturais foi inaugurado em Belo Horizonte, projetando a cidade no cenário nacional e atraindo um volume de turistas de maneira crescente, como aconteceu, por exemplo, durante a Copa do Mundo. Um exemplo disso é o Circuito Cultural Praça da Liberdade, marca da atual gestão estadual, responsável também pela construção da Estação da Cultura, que abarca as novas sedes da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, da Rede Minas e da rádio Inconfidência, previstas para serem inauguradas no início do primeiro semestre de 2015. Ao refletir sobre esse cenário, Eliane Parreiras, secretária de Estado de Cultura, frisa que esses são dois importantes marcos que devem permanecer na memória da população. 


Dos 1,7 bilhão investidos, por meio de recursos diretos e indiretos, no Sistema Estadual de Cultura de Minas Gerais e no setor cultural mineiro, entre 2011 e 2014, cerca de R$ 223 milhões foram alocados para a edificação da Estação da Cultura e R$ 94,8 milhões para o Circuito Cultural Praça da Liberdade, como foi anunciado pelo ex-governador Antonio Anastasia, em 2013.Ao sublinhar isso, ela também reforça como, pela primeira vez, houve um investimento massivo em infraestrutura para o setor.
A importância dada a esse aspecto estrutural, para Parreiras, se justifica pela maneira como ele se perpetua como um legado para o futuro e fortalece a cadeia produtiva do Estado. “A gente entende que a atividade cultural precisa desse investimento em infraestrutura para se realizar de maneira mais completa”, acrescenta a secretária de Cultura. Além disso, sobre o impacto desses complexos no cenário local, ela reforça que eles contribuem para conectar a cidade a outros circuitos de exposições e concertos.
“Mesmo com essa grande oferta de teatros aqui, há algumas demandas que ainda precisam ser supridas. Neste ano, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo veio e se apresentou no Grande Teatro do Palácio das Artes em apenas um dia. Isso aconteceu porque o espaço é disputado por várias outras programações. Com a Estação da Cultura isso pode ser diferente e há a possibilidade de se ter uma temporada maior numa casa realmente adequada à música erudita”, explica a gestora.
 Diálogo
Embora seja reconhecido o grande valor de cada um dos centros espalhados pela capital, o ator Leonardo Lessa chama atenção para a necessidade de se observar melhor como eles de fato dialogam com a sociedade. Ele frisa que o modelo de administração desses espaços praticado atualmente, como é o caso do Circuito Cultural Praça da Liberdade, em que metade deles é gerida por empresas e a outra por instituições públicas, convoca a necessidade de se fazer algumas reflexões. “Talvez uma das principais marcas desse último governo seja uma inclinação ao fomento das iniciativas privadas. O Circuito Cultural Praça da Liberdade é um exemplo disso. Alguns prédios públicos são cedidos pelo governo estadual para serem administrados por empresas, mas não há muita clareza da contrapartida disso para as comunidades”, pontua Lessa. 
Sobre essa questão, Parreiras afirma que uma das exigências feitas aos administradores dos equipamentos é que todos esses tivessem um programa de arte-educação, voltado, especialmente, a alunos de escolas públicas, e programação com horário expandido ao menos uma vez por semana. 
“Ao assumir a gestão de algum equipamento, os proponentes também ficam responsáveis pela recuperação do edifício e pela organização dos conteúdos expositivos. Se depois eles decidirem sair, todo o investimento feito ali se torna patrimônio do Estado”, completa ela. 
Lessa, ancorado nessa defesa de um maior estreitamento dos laços entre aqueles centros culturais e os diversos segmentos da sociedade, reforça que essa questão é relevante para tornar mais claro o objetivo de projetos cuja intenção propagada é promover o acesso democrático ao conhecimento e aos bens culturais. “É interessante garantir a realização de diálogos com as comunidades para se definir melhor a destinação daqueles espaços. Caso contrário, muitos deles, que inclusive estampam o nome de empresas, podem se consolidar mais como ações de marketing”, opina.
Francisco Magalhães, ex-diretor do Museu Mineiro e professor da Escola Guignard, acrescenta que pensar em estratégias de manutenção da presença de diferentes públicos deve ir além da lógica dos eventos. “Não há dúvida quanto ao benefício dos centros, mas é necessário que eles sejam capazes de provocar relações de afeto com a cidade. Sem isso, é mais provável que eles fiquem associados a uma dinâmica industrial e apenas interessada na difusão de produtos”, diz o também artista visual.
Participação
Bárbara Bof, idealizadora do Diálogos Cênicos, proposta que reuniu, recentemente, uma série de atividades realizadas em variados ambientes do Circuito Cultural Praça da Liberdade, reconhece ser fundamental o investimento em infraestrutura. Contudo, ela frisa ser necessário ter em vista os passos seguintes, e um desafio, ao seu ver, é a participação do público.
“Como atrair e conquistar as pessoas para que elas possam construir experiências nesses locais é algo muito importante de ser discutido. Ninguém vai criar a curiosidade de ir a um espetáculo de dança ou de teatro da noite para o dia, e cabe a essas instituições e ao governo também estarem atentos à necessidade de se abarcar iniciativas que contemplem a formação”, diz Bof.
Saiba mais

O Circuito Cultural Praça da Liberdade tem hoje 12 equipamentos e deve receber em breve o Centro de Ensaios Abertos (CENA), o Centro de Referência da Música e o Museu Clube da Esquina, o Centro Cultural Oi Futuro, a Escola de Design da UEMG, o Museu do Automóvel e o Centro de Referência de Gastronomia Mineira.

Fonte: http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/mais-espa%C3%A7os-para-arte-1.963891

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