Seca provoca corrida por poços

Procura por empresas especializadas dobrou no último ano; busca pode agravar problema


LUCIENE CÂMARA
Em tempos de interrupções no abastecimento de água em ao menos 150 municípios mineiros e de baixa em rios e reservatórios, centenas de consumidores estão recorrendo a um antigo método de captação de água: os poços artesianos. Empresas de perfuração informam que a demanda pelo serviço hoje é o dobro da registrada um ou dois anos atrás. Além de produtores rurais, que são maioria entre os clientes, a tendência também chega até as áreas urbanas, como em condomínios residenciais da região metropolitana de Belo Horizonte. A alternativa prevê a captação de água do solo por meio de perfurações de 80 m a 200 m de profundidade. Optar pelos poços significa não depender mais, exclusivamente, da água encanada fornecida pelas empresas de saneamento, que diante da crise hídrica têm feito cortes no abastecimento. Porém, a corrida por esse meio de consumo é vista com cautela por especialistas e pode até agravar o problema da falta de água se feita de maneira irregular.
“O que está acontecendo é uma ação de pânico. Mas se todo mundo fizer isso, não sabemos o que pode acontecer com os aquíferos. Soluções individuais não vão resolver o problema coletivo”, afirmou o professor coordenador do Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Martinez.
Procura
Empresas do setor, por sua vez, dizem que o poço só é perfurado mediante estudo geológico. O proprietário da MG Poços, de Belo Horizonte, Luiz Felipe Menezes Lima, disse que a demanda começou a aumentar há dois anos, quando a seca já vinha afetando diversos setores da economia. Atualmente, segundo ele, a média é de dez pedidos de orçamento por dia. “A procura mais que dobrou. Recebo pedidos de condomínios, sítios e casas. Tenho até fila de espera, com dez contratos já assinados”, relatou Lima.
A Braz Poços, também na capital, informou que a clientela aumentou 100%, com uma média de seis a dez orçamentos por dia. Segundo Luara Ribeiro, uma auxiliar administrativo da empresa, muitos moradores de residências têm ligado querendo o serviço, mas esbarram na falta de espaço – o poço requer uma área em torno de 40 m para os caminhões poderem fazer a perfuração.
“É a única alternativa que nós temos no momento. As obras em rios e barragens vão demorar no mínimo três anos para ser concluídas, enquanto um poço é aberto em três dias e tem água jorrando de uma fonte que é renovável”, defendeu o professor da Universidade Federal de Minas Gerais e PHD em hidrogeologia Adelbanir Braz.
Quem já escolheu
Avaliação. O empresário Thiago Menezes, 30, usa e aprova poços artesianos. A alternativa foi adotada em dezembro passado na fazenda do pai dele, em Esmeraldas, na região metropolitana, e também é utilizada há alguns anos no condomínio onde ele mora, em Nova Lima, na mesma região. “Sou dono de uma imobiliária e vejo que muitos condomínios têm recorrido aos poços”, afirmou.

Processo. O Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) informou que o prazo estimado para análise de outorga de poço artesiano é de seis meses a um ano. Poços feitos sem licença podem gerar danos ambientais.

Economia na rodoviária
O Terminal Rodoviário de Belo Horizonte está adotando medidas para economizar água. A primeira delas foi o usar uma mina descoberta no local para serviços de limpeza. Um poço artesiano abandonado (foto) também será utilizado. “Nós vamos avaliar se a água do poço é potável. Se for, usaremos em todo o terminal”, afirmou o vice-prefeito da capital, Délio Malheiros (PV). Um caixa de captação de água pluvial para reaproveitamento do recurso também será instalada. Após as medidas, a previsão é que o terminal economize até R$ 110 mil na conta de água.
Fonte: http://www.otempo.com.br/cmlink/hotsites/crise-estrutural-do-brasil/seca-provoca-corrida-por-po%C3%A7os-1.984617

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