Número de pessoas obrigadas a fugir de conflitos é recorde

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Improviso. Famílias fogem de conflitos como o da Síria (foto) e acabam passando anos sem lar
Genebra, Suíça. Um relatório divulgado nesta quarta aponta que a situação de violência fez com que cerca de 38 milhões de pessoas tivessem que se deslocar dentro de seus próprios países no fim de 2014. O número recorde representa um crescimento de 11 milhões de deslocamentos em relação a 2013, o que significa que a cada dia 30 mil pessoas a mais, em média, foram forçadas a deixar suas casas em busca de segurança em seus países.

Os dados estão no relatório “Global Overview 2015: People Internally Displaced by Conflict and Violence” (Visão Global 2015: Pessoas Internamente Deslocadas por Conflitos e Violência), lançado nesta quarta na Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra, pelo Centro de Monitoramento do Deslocamento Interno (IDMC).
“Esses são os piores dados de deslocamento forçado em uma geração, o que assinala nosso fracasso em proteger civis inocentes” disse Jan Egeland, secretário geral do Conselho Norueguês para Refugiados, órgão ligado ao IDMC. “Devemos romper com essa tendência”, acrescentou. “Diplomatas globais, resoluções da ONU, negociações de paz e acordos de cessar-fogo perderam a batalha contra a crueldade de homens armados que são guiados por interesses políticos ou religiosos em vez de imperativos humanos”, completou Egeland.
De deslocados a refugiadosPara o alto comissário assistente do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR), Volker Türk, o número assombroso de deslocados internos devido a conflitos e violência é o prenúncio de movimentos que estão por vir. “Sabemos que deslocados internos são forçados várias vezes a se mover dentro dos seus próprios países. Quanto mais longa a duração de um conflito, mais inseguros eles se sentem. E quando a desesperança se estabelece, muitos vão cruzar fronteiras e se tornar refugiados”, disse Türk.
“Como vimos recentemente no Mediterrâneo, por exemplo, o desespero leva as pessoas a tentarem a sorte e arriscarem a vida em perigosas travessias de barco. A solução óbvia está em um esforço conjunto para levar paz a países arrasados pela guerra”, acrescentou o funcionário do ACNUR.
O relatório do IDMC também frisa o quanto o deslocamento prolongado contribui para esse recorde global alarmante. Em 2014, em cerca de 90% dos 60 países pesquisados, havia pessoas vivendo em deslocamento interno há dez anos ou mais. “Quando novas ou renovadas crises emergem em países como a Ucrânia ou o Iraque, novas ondas de deslocados internos se juntam a uma já massiva população deslocada que não encontra maneiras de sair dessa situação”, disse Alfredo Zamudio, diretor do IDMC.
‘Atirar em navios não é solução’


Genebra. Quando as pessoas que passaram anos se deslocando em seus países se tornam refugiados, emigrando para outras nações, o problema piora. A Europa tem vivido recentemente uma crise humanitária, com milhares de migrantes mortos em naufrágios, ao tentarem atravessar o mar Mediterrâneo.

Recorrer à força contra navios carregados de migrantes “não é uma solução”, afirmou nesta quarta o presidente da Cruz Vermelha italiana, enquanto o Conselho de Segurança da ONU avalia autorizar operações europeias contra traficantes de seres humanos. “Não sou tonto, é preciso combater os traficantes e os barqueiros”, admitiu Francesco Rocca. “Mas para nós, bombardear navios não é uma solução, porque os traficantes encontrarão outras rotas”.

Rocca disse que o tráfico de migrantes para a Europa já passava pela Turquia e pelos Bálcãs. “É preciso uma aproximação global”, que combine uma solução política na Líbia para que um governo unitário possa se opor ao tráfico, com uma ação humanitária.

A União Europeia busca obter o aval da ONU para intervir, inclusive à força, contra redes de traficantes que atraem migrantes que arriscam a vida em busca de asilo e os fazem cruzar o Mar Mediterrâneo saindo da Líbia.

Fonte: http://www.otempo.com.br/capa/mundo/n%C3%BAmero-de-pessoas-obrigadas-a-fugir-de-conflitos-%C3%A9-recorde-1.1034779

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