Piso tátil desobedece a padrão

Movimento Unificado do Deficiente Visual quer material em pontos de ônibus e esquinas de BH
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Piso tátil direcional indica ao deficiente visual que ele está em um terreno de fluxo contínuo

Desafio para quem enxerga bem, caminhar pelas calçadas de Belo Horizonte, com degraus, relevos, buracos e obstáculos que dificultam o ir e vir dos pedestres, fica ainda mais arriscado para deficientes visuais. Ainda que eles contem com o auxílio do piso tátil para se orientar, facilmente caem em armadilhas. A falta de padronização na sinalização empregada nas calçadas tem gerado desconfiança nas pessoas com deficiência visual e provoca debates com o poder público sobre a aplicabilidade do piso.

Para discutir a instalação correta do material, o Movimento Unificado do Deficiente Visual, que conta com cerca de 500 cegos de cinco entidades de Belo Horizonte, se reuniu em abril com o secretário municipal de Planejamento Urbano, Leonardo Castro, para propor que pontos de ônibus e esquinas recebam a sinalização tátil para garantir a segurança dos pedestres cegos. Outros temas ainda estão na agenda de discussão para outros encontros, sem data definida.

“O piso serve para nos mostrar onde é o meio do passeio. A colocação correta dele é muito importante para guiar os deficientes visuais. Temos observado que, em alguns casos, o piso acaba nos levando para o perigo: lombadas, orelhão, árvores, lixeiras e até o meio da rua”, comenta Antônio José de Paula, 65, que perdeu completamente a visão por problemas de saúde, há 25 anos, e é membro do movimento. Professor no Instituto São Rafael, ele afirma que muitos cegos preferem se orientar pela linha de construção dos edifícios a se arriscar seguindo a orientação dos poucos pisos táteis da cidade.

Prática. Após percorrer ruas de Belo Horizonte para verificar a disponibilidade da sinalização, a reportagem de O TEMPO verificou que cada morador instala a ferramenta de orientação de maneira diferente – e muitas vezes incompleta. O critério de instalação deveria seguir a norma 9050/2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), mas é fácil observar o descumprimento da regulamentação. Outros obstáculos são criados pela falta da poda de árvores, que invadem a calçada e trazem risco aos cegos.

A falta de padronização na instalação ocorre devido à má interpretação do piso tátil por parte das pessoas e porque muitas se preocupam apenas com a disposição estética da calçada, segundo Marcelo Pinto Guimarães, professor de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais e diretor do laboratório Adaptse, dedicado a estudos de acessibilidade. “É preciso entender os desafios que os cegos podem encontrar em calçadas para aplicar o piso tátil corretamente. As funções dele são orientar a caminhada, alertar para o perigo e evitar acidentes”.

Síndica de um prédio no bairro Anchieta, na região Centro-Sul, a professora Ana Izaura Alves, 58, foi orientada pela prefeitura ao fazer o projeto de instalação do piso tátil na calçada do edifício. “Não segui o desenho do prédio ao lado, pois soube que a instalação que fizeram estava incorreta”.

Poder público precisa dar o exemplo

O poder público precisa ser um exemplo de cidadania, antes de cobrar qualquer obrigação do cidadão no que diz respeito à acessibilidade, segundo o professor de arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcelo Pinto Guimarães. “Primeiramente, o Executivo tem que tornar todos os prédios e equipamentos públicos da cidade modelos de acessibilidade, e isso não acontece”, disse.
Segundo Guimarães, a prefeitura da capital é pioneira na exigência do cumprimento da norma da ABNT, que regulamenta a acessibilidade a edificações, mas as pessoas precisam se conscientizar sobre os desafios enfrentados pelos deficientes. 

“Se as pessoas não entenderem a importância dessas alterações no piso, irão fazer as modificações nos passeios com má vontade. Pequenas atitudes melhoram a qualidade de vida de quem tem necessidades especiais”, finalizou o professor.

Fonte: http://www.otempo.com.br/cidades/piso-t%C3%A1til-desobedece-a-padr%C3%A3o-1.1051130

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