Dica de Série – Semana 128: The Honorable Woman

NessaA lista dos indicados ao Emmy saiu nesta semana. É mais comum conhecermos todos os indicados a melhor série, mas nem sempre estamos por dentro da categoria minisséries/telefilme/especial. Neste ano, um dos destaques nessa categoria foi a minissérieThe Honorable Woman. Com quatro merecidas indicações (minissérie, direção, roteiro e atriz), essa é uma produção que você precisa conhecer e que ocupa a 128ª semana do Dica de Série do NaTV.
Quando se está muito acostumado a assistir séries, logo no primeiro episódio já sabemos o que esperar da história. O comodismo de muitos roteiristas e as fórmulas de sucesso são usados à exaustão, a tal ponto que fica difícil surpreender o telespectador. Mas se tem uma coisa que The Honorable Woman não faz é deixar o espectador prostrado no sofá aguardando o óbvio.
A minissérie, uma coprodução da americana SundanceTV e da britânica BBC, estreou em 2014. A trama gira em torno do histórico conflito Israel/Palestina. A baronesa Nessa Stein (Maggie Gyllenhaal) é herdeira de uma família anglo-israelense que fez sua fortuna abastecendo o Oriente Médio com armamentos. Anos após a morte do pai, ela e o irmão Ephra (Andrew Buchan) decidem mudar o rumo dos negócios. Ao invés de armas, decidem instalar quilômetros de cabos de fibra ótica para fazer a informação circular entre as universidades locais. A intenção é nobre, mas aos poucos vamos comprovando que nada é simples quando se trata do conflito entre muçulmanos e judeus.
Vamos conhecendo mais da história pessoal de Nessa enquanto o conflito no Oriente Médio se desenvolve. A forma como as tramas são intercaladas mostram como a vida da protagonista está (em diversos níveis diferentes) totalmente ligada a essa guerra secular.
O roteiro inteligente e intrincado faz com que a gente mergulhe na história. Longe de ser didático, às vezes pode parecer difícil clarear as ideias e entender o que está acontecendo em tela. Mas calma, porque no decorrer dos episódios tudo é esclarecido.
The Honourable Woman
A minissérie chuta o maniqueísmo de lado e nos apresenta personagens ambíguos e densos. Durante a implantação dos cabos e do sofrimento pessoal de Nessa – causado por um plot que é melhor não dizer aqui (já que qualquer informação pode estragar a experiência), ela precisa decidir qual caminho seguir, em quem acreditar. Mas confiar em alguém é quase impossível nesse universo bélico, afinal… Quais são os reais interesses dos israelenses? Dos judeus? Dos americanos? Dos ingleses? Quais são as reais motivações da própria família de Nessa?
A sensação de estar enclausurado e perdido em meio a bombas que podem cair na sua cabeça a qualquer momento faz de The Honorable Woman uma ótima minissérie de suspense psicológico. Afinal, como a própria baronesa nos diz no início de cada episódio “Em quem você confia? Como você sabe? Pela aparência deles? Pelo que dizem? Pelo que fazem? Como?”.

Direção

Uma das principais qualidades da minissérie é a direção, que raramente ganha muito destaque em outras produções devido ao ritmo quase industrial da TV. Mas por se tratar de uma minissérie de apenas oito episódios (divididos em nove partes de aproximadamente 50 minutos pela Netflix), e que não terá segunda temporada, The Honorable Woman funciona quase como um filme longo. Por ser uma obra fechada, todas as qualidades de cinema estão presentes.
Os enquadramentos muito fechados mostram a opressão em que vivem os personagens. Em vários momentos vemos a protagonista centralizada no quadro, como se todo o peso do mundo estivesse em suas costas. Os objetos focados pelas câmeras geralmente têm alguma função na cena seguinte e funcionam muito bem dentro da narrativa.
Com belíssimos planos em Londres e na Faixa de Gaza, a minissérie tem diversas rimas visuais, que são não apenas um deleite para os olhos, mas artifícios que ajudam a entender o denso roteiro. Palmas também para a fotografia, que ilumina de forma estouradíssima nossa mulher honrada e se escurece com tristeza nos cativeiros em Gaza.

Interpretações

Ao mesmo tempo em que Nessa precisa se mostrar impassível diante da tortuosa tarefa que tem pela frente, precisa controlar seus próprios sentimentos, que estão totalmente conectados ao tal conflito. Apesar da aparente fortaleza, Nessa é uma mulher sensível e que está quebrada por dentro. E o talento de Maggie Gyllenhaal para demonstrar essa luta interna é de se aplaudir. A atriz nova iorquina interpreta com louvor a baronesa inglesa (o sotaque não é caricato e ganhou elogios da imprensa britânica). Em momentos de tensão ela tenta se manter firme, mas muitas vezes é impossível não deixar as lágrimas caírem. Gyllenhaal imprime o sofrimento dessa mulher de forma honesta. A fragilidade e sofrimento são mostrados de forma realista, sem jamais cair no melodrama. A recompensa por um dos melhores trabalhos de sua carreira chegou pelo prêmio de melhor atriz em minissérie noGlobo de Ouro, e agora uma indicação à mesma categoria no Emmy.
Atika
O ótimo elenco conta também com Stephen Rea (V de Vingança), Andrew Buchan (O Garoto de Liverpool), Igal Naor (300), Lindsay Duncan (Birdman), Tobias Menzies (Desejo e Reparação/Game of Thrones) e Lubna Azabal (Incêndios). Esta última atriz, aliás, também merecia indicações pelo ótimo trabalho que fez interpretando a árabe errante Atika, babá dos filhos de Ephra. É por meio da relação dela com a protagonista que conhecemos um pouco mais de Nessa, e vemos todas as atrocidades a que ela foi acometida ao longo da vida e que a fizeram ser uma mulher tão aquebrantada. A dinâmica entre as duas é sempre interessante e reveladora, já que a baronesa mostra quem realmente é apenas ao lado de Atika.
Direção, roteiro, fotografia e interpretações invejáveis. Esses são os principais argumentos que posso usar para te convencer a assistir The Honorable Woman, com certeza a melhor minissérie que tive o prazer de ver até hoje. Isso mesmo, prazer. Por que nada mais satisfatório para um fã de séries e filmes do que poder assistir a um produto feito com tanto cuidado.
Escrito por Débora Anício
Fonte: http://natv.co/the-honorable-woman/ 

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