Adaptação à moradia é difícil

Beneficiados pelo programa que mudam de região reclamam do deslocamento e da falta de vínculo

“Se a gente não correr atrás, os órgãos públicos não vêm.” - Lenita Valentim, Subsíndica do residencial Hibisco, no bairro Jardim Vitória

JOHNATAN CASTRO

Inaugurado há apenas cinco meses, o residencial Hematita, que integra o Conjunto Habitacional Parque Real, no bairro Paulo VI, na região Nordeste da capital, já sofre com a violência. Moradores relatam venda de drogas no empreendimento do Minha Casa, Minha Vida, e constantemente o síndico precisa mediar brigas entre vizinhos, além de enfrentar a inadimplência no pagamento da taxa de condomínio. O problema é agravado pela dificuldade de adaptação à nova vida em apartamentos. 

“Ainda dá para contornar os problemas. Mas, se piorar, eu vou precisar da ajuda da polícia”, diz o morador e síndico do residencial Hematita, Jefferson Martins, 44, que aguarda da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel) a implantação de um programa para ajudar na adaptação. De acordo com a assessoria do 16º Batalhão de Polícia Militar, é feito o policiamento em todos os bairros de sua responsabilidade, incluindo o Jardim Vitória e o Paulo VI. A corporação afirmou que faz ostensivas em áreas comerciais, paradas e pontos finais de ônibus, além de operações de toda a natureza, inclusive relacionadas ao transporte coletivo.

Nos conjuntos do programa habitacional, o perfil dos moradores é diverso. Vindas de toda a capital e região metropolitana, há desde pessoas morando sozinhas a famílias grandes ocupando os apartamentos. A dona de casa Ana Paula Jorge de Paula, 29, mora com o marido e os cinco filhos em um apartamento de dois quartos. Ela veio do Alto Vera Cruz onde, além de espaço, tinha mais opções de infraestrutura urbana e fácil acesso ao transporte público. “É difícil adaptar. Sou de uma família acostumada a falar alto, a fazer barulho”.

No residencial Hibisco, inaugurado há dois anos no bairro Jardim Vitória, as dificuldades de convivência ainda existem, mas foram amenizadas pelo programa de adaptação, que ficou no condomínio por cerca de um ano, promovendo palestras e a conscientização dos moradores. “Temos todo o tipo de pessoas aqui. Sempre tem alguém querendo fazer um churrasco do lado de fora. E temos muitas crianças, aí alguns reclamam da bagunça. Sempre há atrito”, conta um dos subsíndicos, o aposentado Marcos Antônio Clarindo, 60.

Também há reclamação em relação à necessidade de mudar de bairro. O metalúrgico e sindicalista Junior Julio Brito, 50, veio do Barreiro para o residencial Hematita. Na sua região de origem existem empreendimentos do programa, mas ele não conseguiu permanecer na área. “É lá que eu fui criado e onde estão minhas raízes. Já estive na Urbel, mas não resolveram nada”.

A arquiteta e urbanista Margareth Uemura diz que o deslocamento dessa população tem implicações sociais. “Muitos estudos já apresentam esses efeitos negativos, que é o surgimento da violência a partir da vulnerabilidade da perda de emprego. Eles vivem mais precariamente porque têm empregos esporádicos”, avalia. “A presença do Estado tem que ser maior. Essas estruturas locais vão ter que tratar esses lugares com a atenção adequada para que eles não sejam um problema”.

“É importante que se faça um planejamento urbano para se levar a infraestrutura necessária. O poder público pensa muito na obra e pouco no projeto”, ressalta o engenheiro civil e professor da Una, Murilo de Mello Campos.

Saiba mais

Transporte. A BHTrans informou que realiza planejamento para os empreendimentos da Urbel e que a linha que atende o Jardim Vitória é monitorada para que seja ampliada de acordo com a demanda. No Paulo VI, a linha disponível está de acordo com o número de moradores. As assessorias do Ministério das Cidades e da Polícia Militar não se posicionaram até o fechamento desta edição.

Longe

10,9 km é a distância da UPA Nordeste do residencial Hematita

Impacto

1 linha de ônibus atende toda a população do Jardim Vitória

Fonte: http://www.otempo.com.br/cidades/adapta%C3%A7%C3%A3o-%C3%A0-moradia-%C3%A9-dif%C3%ADcil-1.1036823