Por um ensino mais abrangente

É preciso ter atenção às transformações da adolescência e reorganização das matérias do ensino médio

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Hora de repensar. Modelo de salas de aula e de conteúdo programático que existe há 150 anos tem de se tornar mais adequado ao século XXI


Nada de física, história ou biologia... Na visão de especialistas em educação, salas de aula com carteiras enfileiradas, onde a cada 50 minutos um professor trata o conteúdo de uma disciplina, é um modelo que não funciona mais. Adaptando-se à realidade dos novos tempos e dos jovens, a “nova escola” deveria seguir no ensino de fenômenos, e não apenas de matérias. Um exemplo: em uma aula sobre a crise hídrica, o professor de geografia fala sobre o regime de chuvas, o de química explica como é o tratamento dos rios, e o de matemática aborda como o problema afeta a economia.
“As aulas podiam ser mais dinâmicas, é tudo sem graça. A cada hora a gente está pensando numa coisa. Primeiro a gente tem matemática, aí vai para geografia e depois volta para matemática”, reclama Camila Silva, 14. Ela ainda está no ensino fundamental, com apenas oito matérias e um professor, e mal sabe que no médio serão 12 disciplinas ao longo da semana, com docentes diferentes.

Pesquisa publicada neste ano pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) frisa que a passagem de ciclos escolares, a partir da antiga quinta série, é traumática e representa um gargalo, com altos índices de reprovação e evasão. O adolescente começa a conviver com uma série de matérias, sem um educador referência para a turma, porque o professor tem menos tempo e dá maior ênfase aos conteúdos. “Para que isso vai servir na minha vida?” é a pergunta mais comum desses adolescentes. “É por isso que, hoje, questiona-se o papel do ensino médio, que é a porta de saída do jovem para o mundo adulto. E ele precisa ser reinventado”, diz o fundador do Observatório da Juventude da UFMG, Juarez Dayrell. Ele participou do estudo do Unicef sobre desafios do ensino médio que embasa a série de reportagens publicada por nesta semana.

Impacto. A grande distância que há entre a expectativa dos jovens e a realidade das escolas impacta o aprendizado. “Graças à tecnologia, os alunos têm acesso a todo tipo de informação. A escola não tem mais que distribuir conteúdo, mas transformar o que o eles recebem em conhecimento”, destaca Dayrell. Para ele, o que se espera da educação de base é que o adolescente “aprenda a aprender, com capacidade de refletir”.

Há uma tendência em se buscarem culpados por essa crise do saber: os alunos tacham os professores, que condenam os pais; estes culpam a escola, que por sua vez responsabiliza o governo. “Temos um diálogo de surdos. O Estado não escuta os professores, e os educadores não ouvem os jovens. Assim a educação não avança”, pontua Dayrell. Não faltam exemplos nesse ciclo vicioso. Em uma das escolas visitadas pela reportagem, alguns alunos dormiam e garotas faziam tranças enquanto a professora explicava a matéria. Faltando 15 minutos para a aula acabar, eles já estavam desesperados para ir embora.
Fonte: http://www.otempo.com.br/cidades/por-um-ensino-mais-abrangente-1.1025545

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