Intestino influencia decisões e sentimentos, explica médica

Alemã desvenda funcionamento do órgão que considera ser “subestimado”


AUTHOR COBURN NSPR
Giulia começou a estudar o intestino quando era adolescente
Mannheim, Alemanha. Se Giulia Enders não tivesse contraído na adolescência uma doença misteriosa que a deixou coberta de feridas, ela, assim como quase todos nós, talvez nunca viesse a pensar muito sobre seu sistema digestivo. É possível que ela também nunca tivesse decidido estudar medicina e certamente não teria escrito um best-seller sobre digestão que cativou os leitores alemães no ano passado.
Ainda em 2007, após uma série de tratamentos ineficazes prescritos pelos médicos, Giulia, na época com 17 anos de idade decidiu resolver as coisas por conta própria. Convencida de que a doença teria alguma relação com seu intestino, ela se debruçou sobre pesquisas gastroenterológicas, consumiu inúmeros tipos de bactérias probióticas que servem para ajudar a digestão e provou uma série de suplementos minerais.
O experimento funcionou (embora ela não saiba ao certo qual substância foi a responsável pelo sucesso), deixando-a com a pele renovada e com um grande interesse pelo funcionamento do intestino.
“Eu descobri com meu próprio corpo que conhecimento é poder”, escreveu em um dos capítulos de “Gut: The Inside Story of Our Body’s Most Underrated Organ” (“Intestino: A História do Órgão Mais Subestimado do Nosso Corpo”, em tradução livre), que vendeu mais de 1,5 milhão de cópias desde o lançamento, em março de 2014.
SISTEMA DIGESTIVO. No livro, Giulia cataloga uma série de operações complicadas realizadas dia após dia pelo sistema digestivo, como o mecanismo de limpeza que entra em ação poucas horas depois das refeições e que mantém o intestino delgado incrivelmente limpo. Essa “pequena faxina”, nas palavras de Giulia, é a verdadeira causadora dos roncos que atribuímos erroneamente ao estômago como sinal de fome.
Além disso, existe um número crescente de pesquisas indicando que nossos intestinos podem ter uma influência muito maior sobre sentimentos, decisões e comportamentos do que imaginávamos. A principal evidência em favor dessa hipótese, segundo Giulia, é a vasta rede nervosa conectada ao sistema digestivo para monitorar nossas experiências internas mais profundas e enviar informações para o cérebro, incluindo para as regiões responsáveis pela autoconsciência, pela memória e até mesmo para o senso de moral.
Ainda não se sabe até que ponto seu almoço é capaz de afetar sua capacidade de tomar decisões éticas; nós sabemos muito pouco sobre esse “cérebro intestinal”, nas palavras de Giulia. Essa complexa arquitetura neural sugere que nossos intestinos tenham um papel fundamental para determinar quem somos e o que fazemos.
Essas características essenciais, mas pouco conhecidas de nossos intestinos – a identidade humana mais crua e visceral, sugere Giulia – causou frisson entre os alemães, que, de acordo com os estereótipos, são obcecados pela ordem e pela organização. Porém, Giulia acredita que o que atraiu tantos leitores é o tratamento franco dado a assuntos que geralmente não são discutidos. “A vergonha quase sempre desaparece quando entendemos o assunto”, afirmou.
Fonte: http://www.otempo.com.br/interessa/intestino-influencia-decis%C3%B5es-e-sentimentos-explica-m%C3%A9dica-1.1064287

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