Descaso de médicos desponta em ranking de reclamações

Pacientes se queixam de longas esperas para consultas de menos de cinco minutos e sem a atenção devida


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Precário. Reportagem visitou três unidades da região metropolitana e em todas encontrou pacientes insatisfeitos e estrutura precária
A demora e a falta de infraestrutura e de pessoal são realidades no atendimento médico do país. No entanto, a falta de atenção e de cuidado dos médicos é uma reclamação que ganha cada vez mais voz entre os pacientes. A reportagem de O TEMPOvisitou três unidades de saúde na região metropolitana de Belo Horizonte na última terça-feira e encontrou relatos de doentes que esperam quase dez horas por atendimento e, quando finalmente conseguem contato com um profissional, a consulta dura menos de cinco minutos, e não tem nenhum tipo de contato, nem mesmo visual, com o médico.

“Eles nem olham no nosso rosto e não encostam na gente. Estou com dor abdominal, e o médico nem apertou para ver onde estava doendo”, se queixou a balconista Kátia Romana, 18, no Hospital Municipal de Ibirité.

Na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) JK, em Contagem, cerca de 60 pessoas aguardavam atendimento no início da noite. Entre elas estava o aposentado Adir Antônio Reis, 65. Suando, reclamando de dor e já aguardando por oito horas, ele se dizia desesperançoso. “Se eu for para outro lugar, também terei que esperar. Cheguei às 10h. As dores são na coluna e do lado direito (do abdômen), não aguento levantar o braço e não tem lugar para deitar. Eu acho que são os rins”.

Os próprios guardas municipais, responsáveis pela segurança das unidades, reconhecem que falta cuidado com o paciente. Um deles, no Hospital Municipal de Contagem, contou que precisa administrar confusões quase que diariamente. “Chegamos a ser atacados, e a coisa aqui fica feia. Mas, muitas vezes, somos psicólogos, sentamos, conversamos. E isso ajuda, porque o que as pessoas querem mesmo é ser ouvidas”.

Caso de polícia. Desde o início do ano, a Polícia Militar (PM) registrou cem boletins de ocorrência no Estado relativas a omissão de socorro e mau atendimento – média mensal de 33 queixas. Em 2014, foram 34,25 por mês, em um total de 411. Em 2013, foram 196 registros, 109% menos que em 2014.

Em um dos casos mais recentes, na terça-feira, o marido de uma paciente com pancreatite e complicações renais chamou a polícia porque o Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg) se recusa a fazer cirurgia na mulher, internada há dez dias no CTI. A unidade alegava que faltava sala para o procedimento. O Ipsemg informou que a paciente foi operada ontem.

Os dados de ocorrências da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), no entanto, representam parcela pequena dos insatisfeitos, porque muitos pacientes não sabem que têm o direito de reclamar nem onde podem fazer isso. A maior parte dos entrevistados disse que não iria recorrer à PM ou ao Conselho Regional de Medicina.

Fonte: http://www.otempo.com.br/cidades/descaso-de-m%C3%A9dicos-desponta-em-ranking-de-reclama%C3%A7%C3%B5es-1.1046231

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