Nova descoberta relaciona depressão com inflamações

Em 60% dos casos, pessoas sofrem também de dor crônica pelo corpo


RAQUEL SODRÉ - ENVIADA ESPECIAL

São Paulo. Por muitos anos, a depressão foi encarada como fragilidade ou uma forma de chamar a atenção. Mas a ciência vem entendendo mais os contornos dessa síndrome, que gera reações orgânicas muito mais amplas do que as percebidas alterações de humor e a típica falta de disposição.
A-G1412976897Os trabalhos mais recentes concluíram que a doença está relacionada a processos inflamatórios no organismo. Uma pesquisa do University College London (UCL), na Inglaterra, concluiu que 44 dos 47 genes ligados à resposta anti-inflamatória estavam muito ativados em pacientes com depressão severa.
“Quando as pessoas estão submetidas ao estresse crônico ou a depressões, seu organismo passa a aumentar a produção de substâncias pró-inflamatórias, que são encontradas em pacientes com inflamações crônicas como artrites e artroses”, afirma o psiquiatra Kalil Dualibi, presidente do Departamento de Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina (APM).
Os marcadores inflamatórios produzidos são responsáveis pela liberação dos neurotransmissores cortisol e noradrenalina. O excesso dessas substâncias faz com que a pessoa durma pior – o que pode estar ligado ao ganho de peso. O cortisol também suprime o sistema imunológico, deixando a pessoa mais vulnerável para qualquer doença. Além disso, há uma redução de serotonina, substância ligada ao controle do humor.
A relação das inflamações com a depressão é uma via de mão dupla: pacientes portadores de inflamações podem ficar deprimidos. “A depressão como uma doença de origem inflamatória e podendo desencadear um processo inflamatório é algo novo para a medicina”, comenta Dualibi.
Tratamento. Essa nova descoberta amplia os horizontes para o tratamento da depressão. Além dos tradicionais antidepressivos, para alguns pacientes, é recomendável também a prescrição de anti-inflamatórios. Essas duas categorias de medicamentos também são usadas no tratamento de dores crônicas, outro fator relacionado à depressão.
Na dor crônica – com duração superior a três meses –, o organismo começa a ativar mais as áreas frontais e temporais do cérebro, regiões ligadas ao comportamento e, portanto, à depressão.
“Os remédios que atuam na recepção de serotonina e noradrenalina fazem melhorar os quadros de depressão. Os antidepressivos são medicamentos de primeira linha para o tratamento da dor crônica porque as vias neuroquímicas das duas coisas são comuns”, esclarece o neurologista Manoel Jacobsen, professor titular de neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Ainda segundo ele, 60% dos pacientes deprimidos têm dor no corpo, e 30% das pessoas com dor crônica têm depressão. “Os antidepressivos duais têm um potente efeito analgésico – além do efeito antidepressivo”, acrescenta.
A jornalista viajou a convite do laboratório Pfizer.
Fonte:http://www.otempo.com.br/interessa/sa%C3%BAde-e-ci%C3%AAncia/nova-descoberta-relaciona-depress%C3%A3o-com-inflama%C3%A7%C3%B5es-1.930983


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