Mapa da Música Mundial

Realizadores do programa de rádio “Invasões Bárbaras” criam série especial baseada nos jogos da Copa em site

CARLOS ANDREI SIQUARA
A primeira fase da Copa do Mundo contou com 48 partidas divididas entre 32 países. Para cada um desses jogos, os criadores do programa “Invasões Bárbaras”, veiculado semanalmente pela rádio UFMG, vem propondo duelos entre músicos que representam as seleções em campo, em posts no site desse mesmo programa (www.invasoesbarbaras.com.br).
A brincadeira batizada “Figurinhas da Copa” desenha um divertido panorama da música mundial e dá continuidade à iniciativa inaugurada há oito anos, quando a Alemanha sediava o mesmo evento. “Em 2006, nós começamos essa ideia de apresentar a música de diferentes países retratando primeiro o cenário da Alemanha, em razão da Copa que acontecia ali naquele momento. De lá para cá, virou um hábito acompanharmos os eventos esportivos, como já aconteceu durante algumas edições da Copa América”, explica Igor Costoli, um dos fundadores do “Invasões Bárbaras”, programa que transmite canções dos mais diferentes gêneros e origens.
É a primeira vez, no entanto, que a equipe composta por ele, Guilherme Almeida e o colaborador Thiago Borges, leva um conteúdo específico para a internet com uma identidade visual inspirada nos álbuns de figurinhas recheados com retratos dos jogadores das seleções.
“A cada partida, nós escolhemos e mostramos artistas com informações sobre o trabalho que fazem e sobre o lugar onde vivem. A ideia é produzir uma coleção baseada no mesmo formato daquelas figurinhas”, sintetiza Costoli.
A novidade é reflexo do interesse dos realizadores em investir mais no site que, até então, servia como canal extra de repercussão da pesquisa que mantém a atração radiofônica, transmitida todo domingo às 17h. “Cada vez mais nós queremos fortalecer o site como uma espécie de rádio diferente, em que é possível ouvir músicas de artistas do mundo todo e que talvez poucas pessoas ainda conheçam. Acho que colabora para isso a percepção de que o uso do ‘streaming’ vem crescendo e o acesso às playlists tem ficado cada vez mais fácil”, completa o pesquisador e jornalista.
A busca pelo inusitado continua sendo um dos critérios que norteiam a criação da programação veiculada no espaço virtual, como também já acontece no rádio.
Costoli, recorda, por exemplo, o duelo entre Estados Unidos e Alemanha, no dia 26 do mês passado. Para essa rodada, válida pela primeira fase da competição, eles elegeram a canção “Wer Kennt den Weg” (“I Walk The Line”), cantada pelo norte-americano Johnny Cash (1932-2003) e a faixa “Kong”, da banda alemã The Notwist.
“Enquanto Johnny Cash aparece cantando em alemão, esse grupo interpreta em inglês”, ri Costoli. Mais que uma brincadeira, o caso de Cash, especialmente, chama atenção para algo que acontecia muito no passado. “As gravadores ensinavam aos artistas os fonemas de outros idiomas e eles cantavam versões mirando o mercado internacional”, afirma.
“Eu acho muito divertido ouvir Johnny Cash cantando em alemão e, apesar das dificuldades dele com algumas partes do refrão, os alemães comentam que ele fez uma versão bem honesta dessa música”, acrescenta.
Costoli também conta que, para fazer a seção Figurinhas da Música, ele buscou identificar o que há de novo nesses países, além de lançar mão do próprio acervo que vem reunindo ao se debruçar sobre a cena musical de lugares como Japão, Israel, Romênia, Coreia do Sul, Polônia, Uzbequistão e Lituânia, entre outros. Ele apenas lamenta que a ausência de algumas nações no campeonato diminuiu a oportunidade das pessoas conhecerem o que há de bom por lá musicalmente.
“Senegal, por exemplo, é uma país com uma cena incrível, assim como o Uzbequistão e a Romênia. Uma pena eles não terem vindo para a Copa”, comenta Costoli, que vê no evento um estímulo para descobrir essas diversas outras cenas.
Muito além da “world music” 
Quando Igor Costoli e outros fundadores do programa “Invasões Bárbaras” começaram a produzir a programação que ia ao ar diariamente em pequenas pílulas, a partir de 2006, na rádio UFMG, uma visão em mente era evitar estereótipos. Encontrar a música de países espalhados pelo globo requeria, assim, um cuidado maior do que o apanhado sem nenhum critério identificado em torno do rótulo de “world music”.

“Essa expressão começou a ser usada para qualquer coisa, estabelecendo uma categoria de gênero que não dá conta da história do músico nem do pertencimento dele a determinada cultura local. Por exemplo, eu poderia chegar numa loja de discos na Argentina e encontrar na seção de ‘world music’ um álbum de um cantor angolano ao lado de outro de Milton Nascimento”, observa Igor Costoli.
De acordo com ele, o olhar que orienta a continuidade do projeto até o presente tenta evitar também alguns clichês, como o já batido repertório de “chansons” francesas ou a música eletrônica alemã. “Quando fazemos essas seleções, nós conseguimos, mesmo no gênero eletrônico, mostrar artistas da Alemanha sem passar pelo já conhecido Kraftwerk. Algo interessante identificado lá também é uma cena de reggae que pouca gente tinha notícia. Isso é o mais interessante para nós”, afirma ele. 
Fonte: http://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/muito-al%C3%A9m-da-world-music-1.877884

Comentários