Governo gasta R$ 1,4 bi em escolas com erros de projeto

■ LARISSA ARANTES - O TEMPO - MG
O govemo federal gastou, desde 2009, pelo menos R$ 1,4 bilhão com a construção de 1.351 Centros Municipais de Educação Infantil (Cemeis), que já estão prontos, po­rém, feitos com projetos arquitetô­nicos falhos e que colocam em risco a segurança de quase 164 mil alu­nos. O cálculo foi feito por 0 TEMPO com base no custo mínimo de R$ 1,1 milhão por unidade e de 120 crianças em cada Cemei. Desse to­tal de centros de educação infantil prontos em todo o Brasil, 187 estão em Minas Gerais. Os dados foram fornecidos pelo Ministério da Edu­cação (MEC) à reportagem na últi­ma semana do mês de janeiro.
O fornecimento dos projetos prontos e do financiamento da União para a conclusão das pré-escolas e a aquisição de mobiliário foi possível com a criação do Progra­ma Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil (Prolnfância). As escolas, porém, possuem falhas graves de construção que obrigaram o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) a rever e disponi­bilizar novas plantas em janeiro do ano passado. A direção do fundo ad­mitiu que, mesmo com as falhas, os Cemeis feitos com base no projeto antigo não serão modificados.
O item mais perigoso, que foi um dos retirados nos atuais proje­tos, é um anfiteatro com uma esca­daria vertical com quatro degraus no meio do pátio da creche sem pro­teção alguma ao redor. Ao descui­do de um adulto, qualquer criança pode cair e se machucar gravemen­te. "A queda nesse caso pode ser fa­tal", avaliou a coordenadora nacio­nal da ONG Criança Segura, Ales­sandra Fraçoia. A entidade é refe­rência sobre cuidados com meno­res. "Esse tipo de estrutura não po­deria ser permitida. A creche não poderia estar funcionando nessas condições", explicou. Alessandra adiantou que a ONG vai encami­nhar um ofício ao Ministério da Educação requisitando mais infor­mações sobre os aspectos que envol­vem segurança nas creches.
O FNDE informou que pelo me­nos cinco modificações foram fei­tas nas plantas em janeiro de 2013, dentre elas a retirada do anfi­teatro, mas não detalhou o motivo da mudança. A reportagem de 0 TEMPO constatou as diferenças de estrutura nas pré-escolas que fo­ram construídas com base na plan­ta antiga e na atual.
Pelo projeto anterior, a área de repouso dos bebês com menos de 3 anos é do mesmo tamanho da área intitulada de "creche III", destinada às crianças um pouco mais velhas, a partir de 3 anos. No plano atualiza­do, a área de repouso é menor e o espaço destinado à pré-escola foi ampliado, o que se espera de uma creche padrão, já que as crianças maiores precisam de mais área pa­ra andar e brincar.
O pior é que os erros podem ex­por ainda mais crianças a riscos de acidentes. É que das 5.588 Cemeis em fase de preparação dos terre­nos ou já em obras, de acordo com o MEC, a maioria- 2.530 pré-escolas - serão entregues com base no projeto arquitetônico corrigido, mas, pelo menos 782 delas, ainda poderão ter os itens perigosos ou com uma divisão de espaços longe da ideal. Esses quase 800 Cemeis estão com mais de 80% das obras concluídas e podem não ter tido seus projetos atualizados a tempo. Outras 477 estão com metade ou mais (até 80%) das intervenções finalizadas.
REDUÇÃO. Meses depois da atuali­zação das plantas, a presidente Dilma Rousseff lançou uma meto­dologia de pré-moldados para acelerar a finalização das creches com base na tecnologia de Policloreto de Vinila, conhecido po­pularmente pela sigla PVC.
A técnica, original do Canadá, permitiu reduzir de cerca de um ano para cinco a sete meses o tempo de construção dos centros de educação infantil.
Minas
Minas Gerais tem 239 Centros Mu­nicipais de Educação Infantil (Ce­meis) em obras atualmente, de acordo com o Ministério da Educa­ção (MEC). Além daqueles que já estão sendo feitos, 377 estão em fa­se preparatória, quando o projeto já está contratado pela prefeitura, mas a obra ainda não teve início e o terreno começa a ser preparado. As intervenções de preparação do terreno são de responsabilidade das prefeituras.
Rapidez
Dos 377 Cemeis que estão na fase pre­paratória no Estado, 277 serão ergui­dos com base na metodologia de pré- moldados de PVC. As outras cem serão construídas por meio da alvenaria tradi­cional. Das 239 pré-escolas financia­das pelo governo federal e em obras, 99 já estão mais de 80% concluídas; 90 ultrapassaram pelo menos a meta­de do previsto e 50 ainda não alcança­ram metade da obra.
Contagem
A cidade de Contagem, na região metropo­litana, é um dos municípios mineiros que mais tem Cemeis. São 23 pré-escolas pron­tas feitas com financiamento do governo federal. Além dos projetos arquitetônicos fornecidos pelo governo federal (tipo B e C), a prefeitura também pode optar por apresentar projetos próprios (tipo A), que também contam com dinheiro da União.
Balanço Desde 2011, o plano de financiamento de Cemeis foi incluído no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 2. Até então, a iniciativa ficava apenas no âm­bito do Prolnfância. Conforme o último balanço disponibilizado pelo governo, 3-423 pré-escolas foram contratadas por meio do PAC 2. Nos cálculos da União, com a conclusão dessas unida­des, 1.658 cidades serão beneficiadas com investimento de R$ 4,1 bilhões e atendimento de 700 mil crianças.
FNDE confirma cinco alterações em plantas de centros
0 Fundo Nacional de Desenvol­vimento da Educação (FNDE) in­formou, por meio de nota, que "os projetos tipo B e tipo C foram revisados, e houve algumas mu­danças nessa revisão. Os projetos novos foram disponibilizados em janeiro do ano passado". Essas duas plantas são as fornecidas prontas pela União às cidades.
Ainda de acordo com o FNDE, "todas as creches concluídas, até o momento, utilizaram a versão original do projeto do Prolnfân­cia. Portanto, anteriorà revisão".
Segundo o órgão, além da reti­rada do anfiteatro, modificações foram feitas no leiaute da cozi­nha, na caixa d'água, nas esqua­drias e em melhorias do fluxo in­terno. As mudanças nas esqua­drias, por exemplo, tiveram como objetivo melhorara iluminação e ventilação natural dos espaço. No fluxo interno, visaram um acesso alternativo à cozinha e às salas da creche. (LA)
Fonte: http://www.educacionista.org.br/jornal/index.php?option=com_content&task=view&id=20876

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