Teorias da evolução ainda dividem o ensino nas escolas

Para estudiosa, evolução é a ideia mais pesquisada e apoiada por fatos


A-G
Defensora. Cientista norte-americana Eugenie C. Scott, 67, começou sua jornada até a linha de frente das guerras da evolução em 1974
CORNELIA DEAN

Nova York, EUA. A cientista Eugenie C. Scott, 67, começou sua jornada até a linha de frente das guerras da evolução em 1974, quando seu orientador do doutorado, James Gavan, antropólogo físico da Universidade do Missouri, nos Estados Unidos, debateu com Duane Gish, o bioquímico que era líder do movimento criacionista.
“O cientista (Gavan) falava sobre ciência, e o criacionista falava com o público, contava piadas e era muito agradável, mas apresentou um monte de argumentos pseudocientíficos”, disse ela. Eugenie percebeu que o criacionismo é um “movimento que poderia ter sérias consequências para a ciência e a educação científica”.
Atualmente, ela se aproxima do fim de um período de 27 anos como diretora-executiva do Centro Nacional pela Educação Científica. Apesar do orçamento relativamente pequeno, o centro teve um impacto enorme nas batalhas em tribunais e salas de aula para decidir se o criacionismo – a ideia de que o universo foi criado tal como é por um agente sobrenatural – ou seu primo ideológico, “o design inteligente”, deveriam ser ensinados nas escolas públicas.
“Não há sequer uma organização nos EUA que tenha sido tão importante na batalha em torno da evolução quanto o centro”, afirmou Kenneth R. Miller, biólogo da Universidade Brown. Eugenie mobilizou “cientistas, educadores, pessoas laicas e grupos religiosos, céticos, agnósticos, crentes e cidadãos comuns” em prol da causa científica.
Miller, autor de manuais de biologia muito utilizados, foi uma testemunha importante de uma das maiores vitórias do centro nos tribunais, em 2005. Um conselho escolar local na Pensilvânia orientou professores de ciências do ensino fundamental a dizerem aos alunos que havia problemas sérios na teoria da evolução e a oferecê-los um texto criacionista como ponto de vista alternativo.
Os professores se negaram a seguir diretrizes, alguns pais processaram o conselho, e Eugenie e o centro reuniram provas e testemunhas, incluindo Miller, que foram fundamentais para a vitória. O juiz, que era republicano, falou sarcasticamente sobre a “futilidade impressionante” dos argumentos dos criacionistas. Ainda assim, os professores “tiveram que ser corajosos” para enfrentar as autoridades escolares, afirmou a cientista.
Apoio. A evolução provavelmente é a ideia mais pesquisada e mais abundantemente apoiada por fatos no universo da ciência. Porém, discussões sobre seu ensino ainda são bastante comuns. Pesquisas de opinião mostram que menos da metade dos norte-americanos acredita que a evolução seja um fato científico.
Eugenie afirmou que algo em torno de 20% a 25% dos professores de biologia do país têm pontos de vista considerados criacionistas. “Ainda temos muito que fazer, mas agora todos os manuais falam sobre a evolução. Eles não usam mais expressões como ‘alguns cientistas creem’”, afirma.
Para organizações como o Discovery Institute, que apoia o ensino do design inteligente nas escolas, Eugenie estaria “abafando um ponto de vista legitimamente científico”.
Porém, em 2010 a Academia Nacional de Ciências, organização científica mais importante do país, premiou a cientista com a Medalha do Bem Público pelo “uso extraordinário da ciência em prol do bem-estar da população”. “Eugenie Scott trabalhou incansavelmente e de forma extremamente eficaz para melhorar o ensino das ciências naturais e da evolução”, afirmou o presidente acadêmico Ralph J. Cicerone.

Comentários