Complexidade e influência da cor azul fascinam cientistas

Pigmento anil está associado à calma e à abertura da mente para novas ideias e projetos


NATALIE ANGIER
Nova York, EUA. Nem câncer, nem mapeamento genético, nem aquecimento global. O objeto de pesquisa dos cientistas agora é a cor azul. 
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Fascinados por sua pureza ótica, complexidade e influência metafórica, eles estão explorando a física e a química do azul na natureza, a evolução dos ornamentos e mimos dessa cor, além da ousadia de um ser azul, quando a maioria das formas de vida terrestres opta por tons mais terrosos de bege, rosado ou cáqui. 

Uma equipe de pesquisa recentemente relatou a análise estrutural de uma pequena fruta encantadoramente azul de uma espécie tipicamente africana que pode ser o objeto terrestre mais brilhante da natureza. Os pesquisadores que descobriram o fruto da planta africana afirmam que têm exemplares da frutinha de cem anos atrás e que sua cor permanece a mesma. 

Sabe-se que é um processo de seleção natural, pois os organismos assumem muitas de suas cores com pigmentos, substâncias químicas que absorvem seletivamente alguns comprimentos de ondas e refletem outros - de maneira geral, as plantas parecem verdes porque o pigmento clorofila em suas folhas absorve praticamente todas as luzes exceto a verde.

Outro grupo de pesquisadores, trabalhando no Congo, no coração da África, descobriu recentemente uma nova espécie de macacos, chamados de lesula, que possui um traço raro: os machos têm um pedaço de pele vivamente azul na região escrotal. 

Outros estudiosos, ainda, estão rastreando a história de pigmentos azuis na cultura humana e o papel que esses pigmentos tiveram na moldagem de nossas noções de virtude, autoridade, divindade e classe social. "Os pigmentos azuis tiveram um papel fundamental no desenvolvimento humano", afirma o professor emérito de química da Universidade de Zurique Heinz Berke. Ele afirma que, para algumas culturas, eles eram tão valiosos como ouro. 

Preferência. A cor azul ainda é a preferência de muitos até os dias de hoje. As crianças, por exemplo, gostam de seus cuidadores vestidos com roupas azuis. Um estudo recente da Clínica de Cleveland descobriu que pacientes jovens preferiam enfermeiros usando uniformes azuis àqueles que iam aos seus quartos vestidos de amarelo ou de branco. 

De acordo com psicólogos que exploram o complexo diálogo entre as cores, o humor e o comportamento das pessoas, a valência emocional básica do azul é a calma e maior abertura da mente para novas ideias, ao contrário da especificidade agressiva associada ao vermelho. O azul remete ao mar e ao céu. 
Quase como férias de bolso. 

Em um estudo publicado no periódico "Perceptual & Motor Skills", pesquisadores da Universidade de Aichi, no Japão, descobriram que sujeitos que faziam um exercício de videogame sentados perto de uma divisória azul relatavam se sentir menos cansados e claustrofóbicos, além de apresentarem um padrão mais regular de batimentos cardíacos, do que aqueles que se sentaram ao lado de uma divisória vermelha ou amarela. 

No periódico "Science", cientistas da Universidade de British Columbia descreveram seu estudo sobre como a cor das telas de computador afetou a habilidade dos participantes para resolver problemas de criatividade ou tarefas detalhistas, como copiar um trecho de texto. Os pesquisadores descobriram que as telas azuis eram melhores que as vermelhas ou as brancas no estímulo à criatividade, enquanto as vermelhas funcionavam melhor para as provas de precisão. 

Surpreendentemente, quando foi pedido aos participantes que eles previssem qual cor da tela melhoraria sua performance em cada uma das categorias de problemas, a maioria esmagadora indicou a azul como a melhor para a solução de ambos os problemas.

Arte. Para o pintor fauvista francês, Raoul Dufy, o azul era a única cor com força de caráter suficiente para permanecer azul "em todos os seus tons", já que o vermelho escuro começa a parecer marrom e o claro tende ao rosa. E ele lembra que os amarelos tendem ao preto com a sombra e desvanecem com a luz. Mas o artista nota que o azul pode ser escurecido ou clareado e "sempre permanecerá azul". 

Assim, tanto nas artes como na ciência, o azul sempre será azul.

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