Um país e suas contradições

Centro de Arte Contemporânea e Fotografia traz reflexão sobre fotojornalismo a partir de imagens de “O Cruzeiro”

Invisíveis.
Em circulação de 1928 a 1975, revista “O Cruzeiro” trouxe às suas páginas povos até então “invisíveis”, como negros e índios.
DANIEL TOLEDO
Marcado pela permanente reinvenção da atividade jornalística, o momento atual parece bastante propício à exposição “As Origens do Fotojornalismo no Brasil: Um Olhar Sobre O Cruzeiro (1940-1960)”, que chega amanhã a Belo Horizonte. Anteriormente montada em São Paulo, Rio de Janeiro e Poços de Caldas, a mostra reúne contrastantes imagens publicadas na revista “O Cruzeiro”, propondo reflexões acerca das diferentes forças que desde sempre atuaram sobre o jornalismo.

“É interessante perceber, dentro da exposição, que os anos 1940 se associam a um fotojornalismo mais sensacionalista, voyeurista e aventureiro, enquanto a década seguinte traz imagens mais engajadas, objetivas e humanistas. Essas imagens, é claro, dizem muito sobre a própria natureza da revista e os diferentes momentos que atravessou ao longo de sua trajetória”, analisa o coordenador de fotografia do IMS, Sergio Burgi, que assina a curadoria da exposição ao lado de Helouise Costa, professora e curadora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo.

Contrastes e contradições, aliás, são apontados pelo curador como elementos recorrentes dentro da publicação – classificada como uma “revista de variedades” – e do próprio contexto sócio-cultural ao qual a revista se voltava, naquele momento. “Já abrimos a exposição com uma grande documentação sobre a temática indígena e a chamada Marcha para o Oeste, responsável pela ocupação do Oeste brasileiro. É nessas décadas que se dão os primeiros contatos entre os brancos e vários povos indígenas”, observa Burgi.

“Simultaneamente a isso, o que se via nas grandes capitais eram grandes investimentos na abertura de museus e na construção de coleções de arte clássica internacional, assim como uma nítida intensificação da urbanização e da industrialização do país”, contrapõe, fazendo referência ao amplo leque de assuntos abordados por uma revista em que a fotografia sempre teve papel primordial.

“Em adição a essa cobertura nacional, de fato estendida a diferentes regiões do país, haviam grandes trabalhos individuais, como é o caso do fotógrafo Luciano Carneiro, responsável pela cobertura da Guerra da Coreia, entre outros acontecimentos de igual relevância”, exemplifica.

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