Solução do `quebra-cabeças´ do DNA completa 60 anos

Carta que conta a descoberta ao filho de pesquisador vai a leilão em abril


Família. O pesquisador Francis Crick com seu filho, Michael Crick, em 1942
Carta que conta a descoberta ao filho de pesquisador vai a leilão em abril
NICHOLAS WADE

Nova York, EUA. A comunidade científica e o mundo comemoram o 60º aniversário de descoberta da peça final do quebra-cabeças do DNA, ou seja, a descoberta dos pesquisadores Francis Crick e James Watson de como as bases do DNA se unem em pares. 

O texto foi escrito - senão no calor da descoberta - no dia seguinte aos problemas terem sido resolvidos pelos autores e o grupo na Faculdade King, de Londres. Lá, a pesquisadora Rosalind Franklin havia produzido dados de raios-X críticos sobre o DNA.

Em um misto de linguagem histórico-científica e doméstica-cotidiana, a primeira frase é: "Querido Michael, Jim Watson e eu fizemos, provavelmente, a mais importante das descobertas", e é assinada com: "Muito amor, papai". O pesquisador ainda soletra cada sílaba do real nome químico do DNA - "á-ci-do de-só-xir-ri-bo-nu-clei-co" - com uma orientação para que o filho, à época com 12 anos, lesse com cuidado. A carta contém a primeira descrição escrita do DNA como um código e o mecanismo de sua replicação. Esse procedimento foi o pivô dos artigos científicos sobre a estrutura do DNA e suas implicações genéricas por mais de um mês. 
O biógrafo de Crick, Robert Olby, reproduziu a carta em seu livro de 2009, "Francis Crick: Hunter of Life´s Secrets" (ou Francis Crick: Caçador dos Segredos da Vida, em livre tradução). Segundo ele, o documento era "a melhor descrição do modelo existente na época, tão bem explicado, e é único do ponto de vista de um descobridor escrevendo para seu filho".

Michael Crick, 72, lembra-se bem de quando recebeu a carta em seu colégio interno na Inglaterra. "Estava de cama com algum tipo de gripe que achavam que fosse contagiosa. Tive muito tempo para ler a carta. Lembro-me de recitar ‘ácido de-so-xir-ri-bo-nu-clei-co’", recorda.

"Sempre senti que esta era uma carta de US$ 1 milhão, mas, em um bom dia, uma carta de US$1 milhão pode se transformar em uma de US$ 2 ou US$ 3 milhões", diz Francis Wahlgren, chefe de livros e manuscritos da casa de leilão que cuidará da venda da relíquia científica.

Traduzido por Raquel Sodré

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