Preguiça de adolescentes pode esconder distúrbio do sono

Enfermidade é confundida com esquizofrenia e déficit de atenção


Sintomas. O sono incontrolável durante o dia é um dos principais sintomas da narcolepsia, doença que se manifesta na adolescência
Enfermidade é confundida com esquizofrenia e déficit de atenção
JANE E. BRODY
Adolescentes que sentem muito cansaço e são acometidos por incontroláveis ondas de sono durante o dia podem estar sofrendo de um mal frequentemente não diagnosticado: a narcolepsia. O distúrbio do sono se manifesta principalmente durante a adolescência e está frequentemente ligado a um gatilho ambiental, como uma infecção.

Estudos indicam que esse distúrbio é muito mais comum que os médicos apontam. O Centro de Narcolepsia da Universidade de Stanford estima que a condição afeta uma em cada 2.000 pessoas nos Estados Unidos. A maioria dos casos não é diagnosticada e, assim, os pacientes não recebem tratamento.

Erros no diagnóstico são muito comuns, e a narcolepsia costuma ser confundida com preguiça, depressão, esquizofrenia ou distúrbios de déficit de atenção.

Cientistas detectaram que o mal está relacionado a uma destruição autoimune - produzida pelo próprio organismo - de cerca de 70 mil células cerebrais que, normalmente, produzem um neurotransmissor chamado hipocretina. Sem quantidades suficientes da substância, o cérebro não é capaz de regular corretamente o sono, e os estágios do mesmo ficam desorganizados.

Esse era o caso de Clea Howard, estudante do ensino médio norte-americana que se sentia sempre muito cansada, não importando quantas horas tivesse dormido à noite. Ela frequentemente dormia durante as aulas, no metrô, fazendo as tarefas de casa e até conversando.

Após visitas infrutíferas ao pediatra e ao endocrinologista, a estudante, então, se consultou com a médica especialista em distúrbios do sono Maha Ahmad. "Ela me fez várias perguntas - cerca de dez páginas - e me mostrou um folheto com os sintomas da narcolepsia. Eu tinha todos", conta Clea.

Além da dificuldade para evitar adormecer, a estudante também sentia frouxidão nos joelhos quando ria muito ou ficava animada com alguma coisa, ou, ainda, sob estresse. Se alguma pequena perturbação - como uma folha de papel que caísse sobre ela ou sua mãe ajeitando as cobertas - interferisse em seu sono, ela acordava aterrorizada e gritando, como se estivesse sendo atacada.

Algumas vezes, ela se sentia paralisada quando estava adormecendo ou ao despertar e não conseguia se mexer ou falar. "Normalmente, os pacientes levam cerca de dez anos até serem diagnosticados com narcolepsia. Clea teve sorte por ter recebido o diagnóstico relativamente cedo - cerca de dois anos e meio após o início do distúrbio", diz Ahmad.

Traduzido por Raquel Sodré. 

Comentários