Nova pílula promete músculos tonificados sem exercícios

Em ratos, o composto pareceu imitar, em nível celular, os efeitos de um treino muscular intenso


A solução criada aumenta o número de mitocôndrias, levando a um gasto calórico maior, sem necessidad
A solução criada aumenta o número de mitocôndrias, levando a um gasto calórico maior, sem necessidade de correr
GRETCHEN REYNOLDS
Nova York, EUA. Dois estudos recém-publicados investigam a possibilidade de que um dia venhamos a desfrutar das vantagens da prática de exercícios com a ajuda de uma pílula, ao invés de suarmos a camisa. Porém, embora alguns pesquisadores acreditem na promessa de uma pílula de exercícios, não se sabe se isso seria prudente.
O mais encorajador dos novos estudos, publicado na semana passada pela revista “Nature Medicine”, é a continuação de uma pesquisa de grande proporção publicada no ano passado. Naquele estudo, uma equipe do Instituto de Pesquisa Scripps, na Flórida, nos Estados Unidos, revelou que um composto criado por eles e injetado em ratos obesos aumentava a ativação de uma proteína chamada REV-ERB, conhecida por controlar parcialmente o ritmo cardíaco e os relógios biológicos dos animais. Os ratos que receberam o composto emagreceram mesmo com uma dieta rica em calorias e melhoraram os níveis de colesterol no sangue.
Inesperadamente, os animais também começaram a consumir mais oxigênio durante o dia e gastaram 5% mais energia que os outros ratos. Na verdade, em boa parte dos casos, os animais que receberam o medicamento estavam fisicamente mais preguiçosos. Aparentemente, o composto fornecia um exercício sem a necessidade do esforço físico.
PESQUISA. Intrigados, os cientistas do Scripps, em parceira com pesquisadores do Instituto Pasteur, da França, e outras instituições, tentaram descobrir o que o composto fazia aos músculos para obter esses resultados. Eles sabiam que a droga aumentava a potência da proteína REV-ERB, mas ninguém sabia o que a proteína faria aos músculos diretamente.
Por isso, eles começaram a desenvolver uma linhagem de ratos incapazes de expressar um volume muito grande de REV-ERB nas células musculares. Esses animais tinham um número de mitocôndrias (necessárias para gerar energia) baixíssimo. Por consequência, os animais tinham uma capacidade máxima de consumo de oxigênio 60% mais baixa que o normal. Porém, quando os cientistas aplicaram o composto em ratos deficientes, as células começaram a produzir muito mais REV-ERB. Em seguida, essas células passaram a produzir muito mais mitocôndrias e a fortalecer as existentes.
Por fim, os cientistas injetaram o componente em ratos sedentários para estimular a produção de REV-ERB além dos níveis considerados normais. Quando soltaram os ratos sedentários em pequenas esteiras, eles correram “significativamente mais, tanto no quesito tempo, quanto no quesito distância”, se comparados a animais que não receberam o composto, afirmaram os autores, mesmo que não estivessem treinando anteriormente.
O medicamento “certamente parece agir como uma mímica do exercício”, afirmou o coautor Thomas Burris, atual diretor do departamento de Ciência Farmacológica e Fisiológica da Faculdade de Medicina da Universidade de Saint Louis. Ele acrescentou que não é difícil imaginar um medicamento que permita que as pessoas, especialmente com deficiências físicas ou incapacitadas de se exercitarem, tirem proveito dos benefícios da resistência física, sem precisarem se cansar para isso.
Porém, ainda estamos longe disso e muitas perguntas precisam ser respondidas. Ainda não se sabe, por exemplo, se é possível aumentar os níveis de REV-ERB em pessoas saudáveis, nem se atletas poderiam usar a droga para se doparem.

Comentários