Microalgas podem ser o futuro dos combustíveis limpos

Organismos seriam os principais responsáveis pelos depósitos de petróleo da Terra


Wolfson e seu sócio sonhavam com uma empresa que poderia utilizar biotecnologia para criar energias
Wolfson e seu sócio sonhavam com uma empresa que poderia utilizar biotecnologia para criar energias renováveis
DIANE CARDWELL
Nova York, EUA. Desde que se tornaram amigos no primeiro ano da Universidade Emory, em Atlanta, Jonathan S. Wolfson e Harrison F. Dillon gostavam de ir às montanhas do Wyoming e do Colorado, onde ficavam durante semanas. Dillon fez doutorado em genética, uma segunda graduação em direito, e acabou trabalhando como advogado de patentes em biotecnologia no Vale do Silício. Wolfson se formou em direito e administração de empresas na Universidade de Nova York e abriu uma empresa de software. Mas os dois sonhavam com uma empresa que poderia utilizar biotecnologia para criar energias renováveis.
Então, Dillon descobriu as microalgas, um grupo grande e diversificado de plantas unicelulares que produzem uma variedade de substâncias, incluindo óleos. Acredita-se que elas sejam as principais responsáveis pelos depósitos de petróleo da Terra. Aparentemente, esses micro-organismos tinham potencial e, com um pouco de trabalho, poderiam começar a produzir combustível.
Assim, em 2003, Wolfson e Dillon abriram a Solazyme, na Califórnia. Seguindo a tradição do Vale do Silício, eles trabalharam na garagem de Dillon, criando algas em tubos de ensaio. Foi assim que encontraram um pequeno grupo de investidores atraídos pela perspectiva de transformar um processo que dura muitos milhões de anos em algo que pode ser feito em questão de dias.
Agora, uma década depois, eles colocaram no mercado o primeiro óleo derivado de algas produzido em escala comercial. Porém, o destino desse óleo – sem cor, sem cheiro e armazenado em garrafinhas douradas com conta-gotas – não é o tanque de gasolina, mas o rosto de mulheres preocupadas com o envelhecimento.
Futuro. Vendido sob o nome de “Algenist”, o produto não parece ter nada em comum com refinarias de petróleo e combustíveis. Para a Solazyme, a esperança é a de que, ao manipular cepas de algas para fazer proteínas, açúcares complexos e óleos que podem servir a diversas funções – como hidratar a pele ou substituir ovos e manteiga nos brioches –, a empresa se manterá viva enquanto supera a fase da produção em massa.
A equipe altera geneticamente os micróbios para produzir óleos com diferentes propriedades que os clientes podem querer. Um deles pode ser um óleo que não exploda em um transformador; outro pode ser uma gordura semelhante à manteiga de cacau no chocolate; ou algo que imite o óleo de palma colocado no sabão.
A empresa tem um acordo de muitos anos com o conglomerado japonês Mitsui, com o objetivo de produzir óleos para os mercados químicos e industriais. Em uma joint venture com a Solazyme, a gigante brasileira dos setores agrícola e alimentício Bunge está construindo uma fábrica próxima à sua usina de açúcar; elas irão usar o açúcar para alimentar as algas, que deverão produzir 113 milhões de litros de óleo para sabões e outros produtos por ano. A Solazyme também possui um acordo para desenvolver óleos para que a Unilever use em sabões, produtos de cuidados pessoais e de nutrição.

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