Crucifixos contam sobre a fé

ANA ELIZABETH DINIZ
A história religiosa contada através de crucifixos. E não apenas isso. São cruzes de vários países criadas sob perspectivas únicas, confeccionadas com uma gama enorme de materiais e pelas mais diferentes mãos. Essa é a exposição "A Cruz de cada Dia", que pode ser visitada até dia 29 de abril no Centro Loyola - Espiritualidade, Fé e Cultura, em Belo Horizonte.
A exposição foi realizada pela primeira vez em 2009, no Solar Grandjean de Montigny (Centro Cultural da PUC-Rio), no Rio de Janeiro, com grande sucesso. A partir daí, surgiu o convite do Centro Loyola de Belo Horizonte para trazê-la para a capital mineira.
O organizador é o padre José Fernandes, artista plástico formado pela Universidade Federal de Minas Gerais, filósofo e doutor em artes sacras pela Universidade Gregoriana de Roma.
São mais de 250 crucifixos do século XII aos tempos atuais criados com materiais que vão da palha, papel machê, sucatas, bronze, ferro e até ouro. "A ideia é transmitir toda a questão da criatividade e da arte em função da Quaresma, tempo litúrgico mais penitencial, para voltar o olhar das pessoas à Paixão do Senhor. Esses crucifixos representam o mistério da salvação que vem da cruz", explica o padre.
O visitante poderá conferir a representação da crucificação de Jesus ao longo do tempo. A mostra reconta a história, não só da Igreja Católica, mas de outras expressões da fé da humanidade, tais como das igrejas copta, etíope, bizantina e ortodoxa.
Os crucifixos revelam uma diversidade visual impressionante, como um feito de dente de baleia, do Alasca; sementes, de comunidades indígenas amazônicas; cerâmica e barro, do Norte de Minas; além de conchas, sucatas, tecidos, metais, e outros como pedras da muralha de Jerusalém. Em meio às de madeira, chamam a atenção as de jacarandá, pau-brasil e ipê.
A exposição apresenta cruzes de vários Estados brasileiros, como o Rio de Janeiro, Paraná, Sergipe, Ceará, Rio Grande do Sul e Santa Catariana. Também há objetos de países da América Latina, como o Uruguai, e da Europa, entre os quais se destacam a Itália, Alemanha e França. Há ainda peças originárias de Angola e Moçambique. 
"A Cruz de cada Dia" proporciona ao visitante uma oportunidade de voltar no tempo, a partir da contemplação de crucifixos como o de Maçarandura, São Paulo, do século XVI, que teria pertencido ao padre Anchieta. Há ainda artefatos de Minas Gerais, do século XVII; do Chile, século XVIII e da Holanda, século XIX.
Segundo o padre Fernandes, há peças elaboradas por pessoas diferentes e em circunstâncias diferentes, como crianças com síndrome de Down e mulheres da Pastoral Carcerária. As cruzes foram também adquiridas em situações diversas como viagens pela Europa e presentes de amigos.
Padre Fernandes, como qualquer colecionador, tem dificuldade para eleger o crucifixo de sua preferência. "Escolha difícil, pois cada um tem sua história e importância", como as que expressam a fé da cultura inca e a das igrejas etíope, bizantina e ortodoxa".
Ele destaca, entretanto, um presente do mar que recebeu por ocasião de uma visita à casa de Pablo Neruda, no Chile. A peça, em metal, completamente oxidada, foi trazida pelas ondas enquanto o jesuíta caminhava pela praia.

A exposição brinda os visitantes ainda com objetos raros como um cravo usado nas antigas crucificações, doado pelo Instituto Bíblico de Jerusalém, e uma Spina Palestinensis, similar à coroa de espinhos colocada sobre a cabeça de Jesus, originária do deserto da Judéia.

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