Consumismo ameaça infância com moda de vestuário adulto

Pais devem conversar com filhos sobre itens que são de cada idade


Consumismo ameaça infância com moda de vestuário adulto
Pais devem conversar com filhos sobre itens que são de cada idade
ANDRÉA JUSTE

Saias curtas, sapatos de salto alto, camisas sociais e calças jeans. Não é novidade que as peças tradicionais do guarda-roupas dos adultos também fazem parte da moda para crianças. Longe de considerarem o comportamento "bonitinho", muitos pais, porém, dizem-se preocupados com a sexualização infantil.
No Reino Unido, uma associação de pais quer banir produtos que caracterizam esse avanço inapropriado da idade. No Brasil, porém, resta aos pais apenas deixar de atender os pedidos que forem considerados indevidos.
A vendedora Joyce Penido, de 33 anos, conta que a filha Vitória, de 4, pede saias e blusas curtinhas e até mesmo sutiã. "Ela não quer mais esses vestidos ‘românticos’. Se eu visto uma calça jeans justa, ela quer; se uso decote, ela quer. Mas ela não tem idade para isso".
Preocupada, a mãe acredita que é preciso atenção para esse comportamento. "É muito difícil ter uma menina, pois vemos muitas coisas ruins acontecendo, como pais abusando de filhos. Se estimular a sexualidade da criança, pode estimular interesses, olhares. Tenho essa preocupação de ela não estar ‘sexy’, pois é uma menina", diz Joyce, que "negocia" com a filha. "Ela pede um short, mas não sabe diferenciar um ‘sexy’. Então, tento dar um mais menininha e, não, justinho", fala.
Quem é alvo dos mesmos pedidos é a psicóloga Luciana Dantas, de 38 anos, mãe de Laura, de 4. "Ela pede batom, esmalte, roupa com brilho, sandália de salto. Ela ‘forçou tanto a barra’ que lhe dei uma sandália com salto de 3 cm, mas só a deixo usar uma vez por semana", diz, ressaltando que roupas curtas ou que mostrem a barriga são proibidas. "Acho um apelo à sensualidade", comenta.
A indicação da psicóloga Maria Cristiana Seixas Villani, professora da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), é que as crianças se vistam como adulto somente em um contexto de brincadeira.
"É natural e saudável que crianças queiram imitar o comportamento dos adultos para desenvolver habilidades. Mas nossa sociedade consumista se aproveita disso e acaba as impedindo de viver como crianças, de se divertirem com coisas do mundo da fantasia", ressalta a psicóloga.
Proibição
Em junho, no Reino Unido, lojistas se comprometeram em retirar das vitrines roupas com apelo sexual. Em outubro, o governo britânico deve se reunir com pais e comerciantes para avaliar a iniciativa.

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