Cantada maliciosa desagrada 83% das mulheres brasileiras

Para psicóloga, cultura local esconde problema da não valorização da mulherG


A-G
Nada lisonjeada. Laryssa conta que chegou a mudar sua rotina para fugir das cantadas ofensivas
PUBLICADO EM 10/09/13 - 03h00
No Brasil, 99,6% das mulheres já receberam uma cantada em ambiente público. O problema é que muitas delas ultrapassam a linha do “elogio” e se transformam em ofensas e até mesmo em agressões físicas, amedrontando e traumatizando muitas dessas mulheres. É o que mostra a pesquisa “Chega de Fiu-Fiu”, feita pelo site Olga (thinkolga.com), que, em agosto, ouviu 7.762 mulheres de diferentes partes do país.
É o caso da consultora Laryssa Mariano, 26, que se viu envolvida em uma situação que ultrapassou o limite do aceitável quando precisou mudar de rotina para fugir de elogios maliciosos. “Tive que começar a planejar por quais ruas passaria, pois um grupo de homens falava comigo coisas que não estava disposta a ouvir”.
E essa não foi a primeira situação embaraçosa vivida por Laryssa. “A vez em que me senti mais ofendida foi quando fui assediada por um homem em um ponto de ônibus. Estava sozinha e vi que corria risco. Ele dizia que eu era gostosa e que ele iria tirar minha roupa toda, me mostrar seu órgão genital. Fiquei tão abalada que chorei e passei a ter medo”, lembra.
A jornalista Juliana de Faria, responsável pelo site, conta que desenvolveu a pesquisa porque o assédio fantasiado de uma “simples cantada” era tratado como uma bobagem, o que resultava em pouco conhecimento sobre o assunto.
“Sofri meu primeiro assédio com 11 anos. Na época, não consegui nem entender direito o que havia acontecido, mas já entendi que havia sido humilhada de alguma forma. Voltei chorando para casa e passei a pensar sobre o assunto”, conta a criadora do site. Segundo ela, o resultado da pesquisa prova que as mulheres se sentem inseguras ao caminhar pelos espaços públicos, rotina que deveria ser mudada – 83% delas dizem não gostar do assédio.
Para 98% das mulheres, a rua é o principal local onde as cantadas ocorrem. As baladas também são locais onde a cantada se transforma, em muitos casos, em assédio moral e físico – 82% dizem já ter sido agredidas fisicamente por “pretendentes”. O TEMPO mostrou, no último domingo, que a violência de homens, em busca de mulheres, invade as baladas da capital. Segundo 83% delas, esse tipo de elogio não é aceitável.
Análise. A psicóloga Zaine Martins diz que esse tipo de agressão ocorre porque já faz parte da cultura brasileira. E o problema passa desapercebido, muitas vezes, porque a população já se acostumou a não valorizar a mulher.

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