Bambu é alternativa verde na construção civil

Muito usada em outros países, gramínea é solução sustentável, barata e resistente

A necessidade de desenvolver técnicas sustentáveis está fazendo a construção civil buscar alternativas para utilização de materiais que preservem o meio ambiente.  Diversos estudos estão sendo realizados nesse sentido.  E entre as alternativas que apresentam mais viabilidade para substituição de materiais sustentáveis está o bambu.

Apesar do baixo custo que o bambu oferece para substituição de outros materiais, a planta ainda é pouco utilizada no Brasil.  A maioria das obras que recorrem ao bambu são construções temáticas e de luxo.  No entanto, em países como a Colômbia, Equador e Costa Rica, o uso desse recurso tem sido amplamente explorado, recebendo respaldo inclusive de arquitetos e engenheiros renomados como Simon Vélez, Oscar Hidalgo Lopes e Ana Cecília Chaves.

As inúmeras utilidades do bambu na construção civil não são recentes.  Existem registros do uso do material há pelo menos cinco milênios - variadas estruturas de templos no Japão, China e Índia foram feitas com ele.  Inclusive o famoso monumento indiano Taj Mahal, construído entre 1630 e 1652, usou o bambu para boa parte da composição.  Somente há alguns anos a estrutura da abóbada feita com bambu foi substituída por metal.

Segundo o presidente da Bambuzeria Cruzeiro do Sul (Bamcrus), Lúcio Ventania, o esgotamento das matérias-primas convencionais torna a exploração do bambu mais do que uma necessidade, uma urgência.  "É preciso que as técnicas sejam aprimoradas para que as vantagens do uso do bambu como matéria-prima sejam ressaltadas e divulgadas.  A potencialidade do material é enorme e acredito que em pouco tempo seu uso será uma realidade", afirma.

Para difundir as técnicas e ampliar a utilização, a Bamcrus desenvolveu o Centro de Referência do Bambu e das Tecnologias Sociais (Cerbambu) em Ravena, distrito de Sabará, região metropolitana de Belo Horizonte.

De acordo com Ventania, o Cerbambu será responsável pela difusão das técnicas do uso do bambu e indicará soluções para o uso do material, além de promover todas as potencialidades que a planta oferece.  "Queremos mostrar o quanto essa matéria-prima é versátil e as inúmeras possibilidades de utilização.  Além disso, o Cerbambu também prepara mão-de-obra qualificada para receber o material e usar de forma adequada.  A substituição de outras matérias-primas pelo bambu deve acontecer de maneira gradativa, mas quando se tornar uma realidade será capaz de reduzir o preço da obra e oferecer igual ou melhor qualidade do que os demais materiais", disse.

Versatilidade e resistência são atrativos do bambu
Letícia Murta
A redescoberta do bambu está revolucionando a construção civil.  A matéria-prima orgânica e sustentável tem compressão e módulo de elasticidade, força de tração similar à do aço e resistência superior à do concreto armado.  O bambu mostrou eficiência inclusive para suportar abalos sísmicos, como nos terremotos que ocasionados na Colômbia em que as estruturas montadas com bambu resistiram.

Além da utilidade estrutural, o bambu pode ser usado como telha, pisos, cercas, forro, portas e janelas.  A matéria-prima é versátil e pode reduzir o preço da obra em até 30%.

De acordo com o arquiteto proprietário da Bamboobali, Mário Gabriel Scripilliti Junior, mesmo com todas as vantagens apresentadas pelo uso do bambu, o Brasil não tem quantidade suficiente para utilização em larga escala.  "Ainda estamos em um estágio muito atrasado em relação aos países que já usam o bambu como matéria-prima para a construção civil, como é o caso de diversos países asiáticos.  O que é necessário para alavancar o uso desse material é que empresas invistam em plantações de bambu para que seja possível atender à demanda do mercado", afirmou.

Estudos.  Com mais de 20 anos de pesquisa e trabalho com bambu, o presidente da Bambuzeria Cruzeiro do Sul (Bamcrus), Lúcio Ventania, realiza ações que buscam preencher essa necessidade.  Ventania realiza ações para implantação de um programa de cultivo em grande escala.  De acordo com ele, dessa forma, além de atender à demanda, a plantação trará grande contribuição ambiental.  "O bambu tem potencial três vezes maior de captar o gás carbônico presente no ar do que as árvores tropicais.  Com o cultivo do bambu também será possível vender créditos de carbono e cumprir uma das medidas incluídas no Protocolo de Kyoto para redução da emissão de gases do efeito estufa.  A expansão da cultura do bambu beneficiará diversos setores", defende.

Para ampliar o uso do bambu, estudos estão sendo realizadas em todo o mundo.  O chinês Yan Xiao, professor da Universidade do Sul da Califór-nia, desenvolveu uma técnica de processamento do bambu que resulta em placas similares ao MDF.  A tecnologia, patenteada como GluBam®, pode ser usada da mesma maneira que a madeira nas construções tradicionais.  Outra possibilidade semelhante são os laminados de bambu, chamados de Plyboo em referência aos laminados de madeira (Plywood).

Estudos realizados no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da UNESP, em Bauru, mostram que as espécies mais indicadas para o uso estrutural na construção civil são as dos gêneros Guadua (conhecido no Brasil como taquaruçu), Dendrocalamus (denominado bambu gigante ou bambu balde) e o Phyllostachys pubescens.

Rentável
Planta rende US$ 3 bi à China
A China é o local onde o bambu é mais explorada.  O país fatura mais de US$ 3 bilhões por ano com as atividades ligadas ao bambu e são reconhecidas mais de 3.500 aplicações para o gramídeo.  A planta é responsável pelo sustento de cerca de 5 milhões de famílias e é possível encontrar mais de 1 milhão de residências construídas a partir do bambu no país.

De acordo com o presidente da Bambuzeria Cruzeiro do Sul (Bamcrus), Lúcio Ventania, a urgência de desenvolver a cultura do bambu no país é crescente.  "A América do Sul possui um terço do bambu do mundo.  Estamos realizando estudos para certificar os tipos adequados para utilização na construção civil.  Não podemos esperar que a matéria-prima se esgote na China para pensar em ampliar o cultivo ", disse.

Segundo ele, a exploração industrial já existe sendo necessário apenas ampliar.  "Trinta por cento do papel do planeta é feito de bambu.  Temos que direcionar a planta para outras aplicações", garante.  (LM)


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