Aprendizado na velhice é pior porque idosos dormem mal

Perda de memória não é reversível, mas pode até melhorar com exercícios físicos


Descobertas sugerem que uma forma de frear a perda de memória em idosos é melhorar a qualidade do sono
Perda de memória não é reversível, mas pode até melhorar com exercícios físicos
BENEDICT CAREY
Nova York, EUA. Os cientistas sabem há décadas que a habilidade de se lembrar de informações recém-aprendidas diminui com a idade, mas os motivos para isso ainda não eram claros. Agora, um novo estudo pode dar parte dessa resposta.

Relatório publicado na última edição do periódico especializado "Nature Neuroscience" sugere que as mudanças estruturais no cérebro que ocorrem com o tempo interferem na qualidade do sono, o que por sua vez, atrapalha a habilidade de guardar memórias a longo prazo. 

Pesquisas anteriores descobriram que o córtex pré-frontal - região cerebral localizada atrás da testa - tende a perder volume com a idade, e a parte perdida dessa região é a que auxilia na sustentação da qualidade do sono, que é crítica na consolidação das novas memórias. Mas o novo experimento é o primeiro a ligar diretamente essas mudanças estruturais aos problemas de memória relacionados ao sono. 

As descobertas sugerem que uma forma de frear a perda de memória em idosos é melhorar a qualidade do sono, especificamente a chamada fase de ondas lentas, que constitui cerca de um quarto de uma noite de sono normal. 

Experiências. Os médicos não conseguem reverter as mudanças estruturais que ocorrem com o envelhecimento, mas pelo menos dois grupos estão fazendo experiências com estimulação elétrica como uma forma de melhorar o sono profundo nas pessoas mais velhas. Colocando eletrodos no couro cabeludo dos idosos, os cientistas podem fazer passar uma corrente elétrica na região pré-frontal, imitando a forma de ondas lentas do sono de alta qualidade.
 
O resultado dessas experiências é uma melhora na memória, pelo menos em alguns estudos. "Há, também, um grande número de outras formas de melhorar o sono, incluindo exercícios físicos", afirma o professor de psicologia e diretor do programa de neurociência cognitiva da Universidade Northwestern, Ken Paller. Mas a pesquisa "conta uma história convincente: que a atrofia cerebral está ligada ao sono de ondas lentas, que sabemos estar ligado à performance da memória. Então, é um fator de contribuição".

Depois de realizar testes com adultos aposentados e com jovens na faixa dos 20 anos, "as análises mostraram que as diferenças eram causadas não por mudanças na capacidade de memórias, mas pelas diferenças na qualidade do sono", afirma o pós-doutor da Universidade da Califórnia e principal autor do estudo, Bryce A. Mander.

As descobertas não querem dizer que a atrofia média pré-frontal seja a única mudança relacionada à idade que causa os problemas de memória, segundo o professor de psicologia e neurociência da Universidade da Califórnia, Matthew P. Walker, que é coautor do estudo. "Mas essas coisas estão relacionadas. Essencialmente, com o passar do tempo, quanto menos tecido na região pré-frontal você tem, menos qualidade de sono profundo se consegue e menos você se lembra do conteúdo que você acabou de aprender", relaciona. 

Traduzido por Raquel Sodré

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