Desafios para novos artistas



Estreia.A artista Laura Belém apresenta duas obras inéditas em Belo Horizonte: Durante pouco mais de um ano, André Komatsu, Jonathas de Andrade, Laura Belém, Marcone Moreira e Paulo Nenflidio, todos eles artistas contemplados pela quarta edição do prêmio nacional Marcantonio Vilaça, se dedicaram à pesquisas individuais, acompanhados pelos críticos Paulo Herkenhoff, Rafael Vogt Maia Rosa, Laymert Garcia dos Santos e Lisette Lagnado.

Ao fim dessa etapa, em 2012, junto com os pesquisadores convidados, eles selecionaram obras representativas do trabalho desenvolvido no campo da arte contemporânea. O resultado desse processo de curadoria é agora apresentado na mostra itinerante, que aporta pela primeira vez em Belo Horizonte e está aberta ao público a partir de hoje na Grande Galeria Alberto da Veiga Guignard, do Palácio das Artes.

No total, a coletiva abarca 22 obras, entre fotografias, desenhos, esculturas - algumas delas mescladas com dispositivos sonoros - e instalações. Comparada às versões predecessoras, a atual, segundo Jeff Keese, coordenador de produção e montagem da mostra, ressalta procedimentos caros à arte contemporânea, como a apropriação de materiais diversificados.

"A cada ano a exposição parece assumir uma identidade. Na segunda e na terceira, por exemplo, havia muito vídeo e pintura, respectivamente. Desta vez, sumiram essas duas linguagens, que cederam espaço a outras práticas", compara Keese.

Em meio à diversidade de propostas, figuram temas que discutem questões relacionadas ao projeto de ocupação do espaço urbano, por exemplo, nas fotografias e num grande painel concebido por Jonathas de Andrade. Para produzir o segundo, o artista alagoano radicado no Recife reuniu 340 peças que reconstroem visualmente os grafismos de um mural de azulejos encontrado em uma casa modernista destinada a demolição na capital de Pernambuco.

Já o maranhense Marcone Moreira, residente no Pará, utiliza pedaços de madeira empregada na confecção de barcos e presente na carroceria de caminhões que atravessam a região próxima a Marabá, município paraense, para elaborar suas esculturas. Ele as incorpora mantendo as tintas e as marcas originais, realçando, assim, as camadas de memória em torno daqueles fragmentos.

"Eu estou interessado tanto na memória impregnada nesses materiais quanto nos saberes populares de um tipo de construção naval que está em vias de desaparecimento. Isso envolve certamente outras questões sociais e históricas que têm levado a esse contexto", diz Moreira.

Única artista mineira a participar da exposição neste ano, Laura Belém estreia duas instalações ali presentes: "Jardim das Esculturas" e "Do Nascer ao Pôr do Sol". Ambas, segundo ela, são desdobramentos de ideias anteriores. "Aqui eu apresento `ardim das Esculturas III´ Em linhas gerais, o conceito é o mesmo, mas os materiais mudam a cada projeto", conta Laura. 

A primeira vez que ela apresentou "Jardim das Esculturas" foi em 2011 na galeria Luiza Strina, em São Paulo. Em vez do pó de mármore usado naquela ocasião, agora é o minério de ferro, oriundo de desassoreamento de rios, que serve como suporte para as esculturas moldadas com canudos de plástico.

"Optei pelo minério porque ele dialoga com o material utilizado em obras de outros artistas, como Amilcar de Castro e Franz Weissmann, estabelecendo, assim, ligações com o neoconcretismo. E para fazer essa referência, eu escolhi uma abordagem mais lúdica", afirma a artista.

Os paulistas André Komatsu e Paulo Nenflidio, por sua vez, comparecem oscilando entre criações conceituais, a exemplo de "Choque de Ordem", do primeiro, e de outras que primam pela interação com artifícios sonoros. É o caso de "Totem", de Nenflidio, que se baseia em objetos cultuados por indígenas norte-americanos e canadenses. "Komatsu cria uma instalação que aponta para essa tensão entre ordem e desordem, contrastando precisão e improviso. Neflidio, por outro lado, é técnico em eletrônica e concebe obras bastante interativas e lúdicas", pontua Keese.
 

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